terça-feira, 5 de janeiro de 2021

ESTAMOS VIVENDO O AMOR DE JESUS?

 



Robinson L Araujo[1]

 

É bem verdade que ao longo dos tempos, os cristãos tentam lidar com a esmagadora realidade da Pessoa de Jesus Cristo e de todo Seu amor para com a humanidade, adaptando-o a sua era, ao momento, a cultura e a infinidade de "balelas" que tentam definir a Pessoa e o amor de Jesus Cristo. Tentamos adaptar a Verdade sobre Jesus Cristo à nossa realidade pessoal.

Interessante foi a pergunta de Jesus a Seus discípulos, em Lucas 9:18-20:

18. Certo dia, Jesus orava em particular, acompanhado apenas dos discípulos. Ele lhes perguntou: “Quem as multidões dizem que eu sou?”. 19. Os discípulos responderam: “Alguns dizem que o Senhor é João Batista; outros, que é Elias; e outros ainda, que é um dos profetas antigos que ressuscitou”. 20. “E vocês?”, perguntou Ele. “Quem vocês dizem que Eu Sou?” Pedro respondeu: “O Senhor é o Cristo enviado por DEUS!”.

Manning (2014. p.138-140) traça algumas tendência em todo cristão de "reimaginar" o Homem da Galiléia, de conceber um tipo de Jesus com o qual possamos viver, de projetar um Cristo que confirme nossas preferências e preconceitos, vejamos:

ü  Para muitos hippies dos anos 1960, Jesus era muito semelhante a eles — agitador e crítico social, alguém que não se dobrou ao sistema, profeta da contracultura;

ü  Para muitos yuppies[i] dos anos 1980, Jesus era o provedor de uma boa vida, o Senhor do spa, um jovem executivo motivado com uma missão messiânica, profeta da prosperidade e da limusine com chofer. Afinal de contas, ele não nos prometia cem vezes mais nesta vida?;

ü  Nos primórdios da era cristã, o "Jesus César". Em seu nome, a igreja combinou riqueza e poder político com serviço professado a DEUS: um casamento profano entre igreja e estado em que o papa em seu manto de arminho e César em toga de seda se mancomunavam para construir impérios;

ü  Encontramos a mesma aliança sacrílega na capital da nação quando determinados líderes religiosos espreitam os corredores do poder batizando alguns políticos e colocando outros na lista negra, sempre alegando encontrar suporte no ensino de Jesus.

ü  O "Jesus Apolo" veio em seguida: visionário romântico, um belo líder humano sem nenhuma conotação controversa;

ü  Tornou-se o herói dos charmosos e talentosos cavalheiros do século XIX e começo do XX...

Em toda época e cultura tendemos a moldar Jesus à nossa imagem e a maquiá-lo de acordo com nossas necessidades a fim de lidar com o estresse que sua presença sem disfarce provoca. "Numa trincheira Jesus é um esquadrão de resgate; na cadeira do dentista, um anestésico; no dia da prova, um solucionador de problemas; numa sociedade afluente, um moderado bem barbeado; para um habitante da América Central, um revolucionário barbudo". Se pensamos em Jesus como amigo de pecadores, os pecadores são provavelmente nosso tipo de gente.

Manning (2014) acaba afirmando: "Sei, por exemplo, que Jesus é amigo de alcoólatras. Minha história pessoal e condicionamento cultural tornam Jesus compatível e compassivo com pecadores seletos como eu. Tenho como lidar com esse Jesus".

O mundo anseia pela resposta, não por palavras, mas, por atitudes de verdadeiros Discípulos/Filhos de DEUS.

E a pergunta ainda é a mesma que o Mestre fizera a Seus discípulos: "E vós, quem dizeis que Eu Sou?".

Jesus é o revelador da natureza da Divindade, sendo assim, somente Ele pode revelar a Paternidade incomparável de DEUS. Se reuníssemos toda a bondade, sabedoria e compaixão dos melhores pais e mães que já existiram, teríamos apenas uma leve sombra do amor e da misericórdia no coração do DEUS redentor.

Para isso, basta olharmos para João 14:9-10, quando Ele afirma: "Jesus respondeu: “Filipe, estive com vocês todo esse tempo e você ainda não sabe quem eu sou? Quem me vê, vê o Pai! Então por que me pede para mostrar o Pai? Você não crê que eu estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que eu digo não são minhas, mas de meu Pai, que permanece em mim e realiza suas obras por meu intermédio".

Jesus é a expressão completa de DEUS! Sendo assim, II Coríntios 5:17-19, afirma:

17. Logo, todo aquele que está em Cristo se tornou nova criação. A velha vida acabou, e uma nova vida teve início! 18. E tudo isso vem de DEUS, aquele que nos trouxe de volta para Si por meio de Cristo e nos encarregou de reconciliar outros com Ele. 19. Pois, em Cristo, DEUS estava reconciliando consigo o mundo, não levando mais em conta os pecados das pessoas. E Ele nos deu esta mensagem maravilhosa de reconciliação.

Por meio do amor de Aba, através de Seu Filhos Jesus Cristo, somos reconciliados, não importando nossos pecados, pois não é pela Lei e sim por Sua Graça: "Vocês são salvos pela graça, por meio da fé. Isso não vem de vocês; é uma dádiva de DEUS. Não é uma recompensa pela prática de boas obras, para que ninguém venha a se orgulhar". (Efésios 2:8-9).

Somos constrangidos pelo amor do Pai e esse amor, deve nos levar a uma mudança de atitude para com as pessoas, conforme Ii Coríntios 5:14-16:

14. De qualquer forma, o amor de Cristo nos impulsiona. Porque cremos que Ele morreu por todos, também cremos que todos morreram. 15. Ele morreu por todos, para que os que recebem Sua nova vida não vivam mais para si mesmos, mas para Cristo, que morreu e ressuscitou por eles. 16. Portanto, não avaliamos mais ninguém do ponto de vista humano. Em outros tempos, pensávamos em Cristo apenas do ponto de vista humano, mas agora o conhecemos de modo bem diferente.

O cristianismo se move num clima completamente permeado de amor, e somos chamados a uma vida de discipulado compatível com Ele - não vivendo num nível pré-cristão, encarando DEUS apenas em termos de leis, regras e obrigações. DEUS é amor. Apenas o amor de Jesus Cristo manifesto na cruz é certo.

A experiência Aba é a origem e o segredo de Cristo, de Seu Ser, Sua mensagem e modo de viver. É compreendida apenas por aqueles que a compartilham. Enquanto não nos encontrarmos com o Pai de Jesus e não O conhecermos como um Pai amoroso e perdoador, será impossível entender o ensinamento de Jesus a respeito do amor.

As parábolas da misericórdia divina - a moeda perdida, a ovelha perdida, o filho perdido - estão enraizadas na própria experiência de Jesus com seu Pai. Ele fala à luz dessa realidade. Essas histórias destinavam-se não apenas a defender Sua notória conduta pessoal ao lado dos pecadores, mas a apanhar de surpresa seus críticos, abrindo uma fissura em seu modo convencional de pensar a respeito de DEUS. Jesus alfinetava seus oponentes com palavras que de fato significavam: "As prostitutas que não possuem qualquer integridade imaginada para proteger estarão dançando no reino enquanto vocês terão sua alegada virtude extinta!

Temos o privilégio de compartilhar a intimidade de Jesus com Seu Pai. Somos chamados a viver e a comemorar a mesma liberdade que tornou Jesus tão atraente e autêntico. Ao invés de julgar uma pessoa, é preciso abraçá-la e expressar o amor de Jesus, ao ponto de se dizer: "Bem vindo ao lar", como uma palavra autêntica vindo do nosso irmão Jesus Cristo.

Tantos cristãos acabam parando em Jesus. Permanecem no Caminho sem chegar a onde o Caminho os conduz — ao Pai. Querem ser irmãos e irmãs sem serem filhos e filhas. Neles se cumpre o lamento de Jesus: "Pai justo, o mundo não te conheceu" (João 17:25). Como o Pai o amou, Jesus nos amaria e nos convidaria a fazer o mesmo: "Amai uns aos outros assim como eu vos amei". (João 15:12).

Por meio de um conhecimento íntimo de Jesus Cristo, aprendemos a nos perdoar. À medida que permitirmos que Sua bondade, paciência e confiança para conosco nos conquistem, seremos libertos daquela antipatia por nós mesmos que nos persegue por onde vamos. E simplesmente impossível conhecer o amor de Jesus por nós sem que alteremos nossa opinião e sentimento a respeito de nós mesmos e nos unamos a Ele em seu amor de plena aceitação por nós. O perdão de Cristo nos reconcilia com Ele, conosco e com toda a comunidade. Um modo de saber como Jesus se sente a seu respeito é o seguinte: se você se ama intensa e livremente, então seus sentimentos a seu respeito correspondem perfeitamente aos sentimentos de Jesus.

"Já vos não chamarei servos [...] mas tenho-vos chamado amigos" (João 15:15). Agostinho disse a respeito desse último versículo: "Um amigo é alguém que sabe tudo a seu respeito e ainda assim o aceita". Este é o sonho de que todos compartilhamos: conhecer um dia uma pessoa com quem eu possa realmente conversar, que compreenderá a mim e as palavras que digo, e ouça mesmo aquilo que não é dito - e continue ainda assim a gostar de mim. Jesus Cristo é a realização desse sonho.

"Como o Pai me amou, assim eu também vos amei" (João 15:9). Jesus nos ama como somos e não como deveríamos ser, já que nenhum de nós é como deveria ser.

Se você abordasse Paulo e quisesse discutir a reforma paroquial ou a adoração contemporânea, ele responderia: "Não tenho nenhuma compreensão de igreja ou de religião que não seja a do homem sagrado, Jesus, que me amou e se entregou por mim".

Tendemos a restringir nosso afeto e nossa aceitação para alguns selecionados. Porém Jesus aprofunda a amizade humana da mesma forma que aprofunda tudo que toca. Sem Ele, achamos difícil nos relacionarmos com determinadas pessoas de modo amoroso e respeitador.

Certa cerimônia aliada a uma atitude crítica nos impede de oferecer a essas pessoas o que elas mais carecem - encorajamento para sua vida. A amizade de Jesus, porém, nos capacita a ver os outros como Ele via os Doze: imperfeitos, mas bons, curadores feridos, filhos do Pai.

Descobrimos que somos compatíveis com um espectro amplo de pessoas com as quais costumávamos não nos sentir à vontade e passamos a orar como Thomas Merton[2]: "Obrigado, Senhor, porque sou como o restante dos homens".

Precisamos aprofundar as raízes de amor de DEUS em nosso coração, por meio do amor que Ele verte por nós na vida de outras pessoas. Efésios 3:17-19 nos diz:

17. Então Cristo habitará em seu coração à medida que vocês confiarem nEle. Suas raízes se aprofundarão em amor e os manterão fortes. 18. Também peço que, como convém a todo o povo santo, vocês possam compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Cristo. 19. Que vocês experimentem esse amor, ainda que seja grande demais para ser inteiramente compreendido. Então vocês serão preenchidos com toda a plenitude de vida e poder que vêm de DEUS.

Prestemos atenção ao que o Apóstolo Paulo quis dizer: É impossível conhecer perfeitamente o amor de Cristo. Precisamos abrir mão de nossas percepções empobrecidas, farisaicas, tradicionalistas, legalistas e humanas acerca de DEUS e abrir-nos para o DEUS em Jesus Cristo. Se o fizermos, temos a promessa de que seremos inteiramente preenchidos pela plenitude de DEUS.

Efésios 4:13, fala: "até que todos alcancemos a unidade que a fé e o conhecimento do Filho de Deus produzem e amadureçamos, chegando à completa medida da estatura de Cristo".

Que DEUS nos capacite a amarmos mais do que julgarmos as pessoas. Ele nos ama para que tenhamos uma caminhada em Vida Plena.

 

 REFERÊNCIAS

Bíblia Nova Versão Transformadora. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/nvt>. Acessado em: 03 jan. 2021.

MANNING, Brennan. A assinatura de Jesus: o chamado a uma vida marcada por paixão santa e fé inabalável. Traduzido por Maria Emília de Oliveira. 1 ed. São Paulo: Editora Vida, 2014.



[1] Pastor - discípulo de Cristo - e-mail: robinson.luis@bol.com.br - Redes sociais: @prrobinsonlaraujo - 05/01/21.

[2] Escritor católico do século XX. Monge trapista da Abadia de Gethsemani, Kentucky.



[i] Expressão inglesa que significa "Young Urban Professional", ou seja, Jovem Profissional Urbano. É um termo usado para se referir a jovens profissionais entre os 20 e os 40 anos de idade, geralmente de situação financeira intermediária entre a classe média e a classe alta. Os yuppies em geral possuem formação universitária, valorizam bens materiais, trabalham em suas profissões de formação e seguem as últimas tendências da moda. Disponível em: < https://www.significados.com.br/yuppies/#:~:text=Yuppies%20%C3%A9%20uma%20express%C3%A3o%20inglesa,m%C3%A9dia%20e%20a%20classe%20alta>. Acessado em: 05 jan. 2021.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário