Robinson
L Araujo[1]
É bem verdade que ao
longo dos tempos, os cristãos tentam lidar com a esmagadora realidade da Pessoa
de Jesus Cristo e de todo Seu amor para com a humanidade, adaptando-o a sua
era, ao momento, a cultura e a infinidade de "balelas" que tentam
definir a Pessoa e o amor de Jesus Cristo. Tentamos adaptar a Verdade sobre
Jesus Cristo à nossa realidade pessoal.
Interessante
foi a pergunta de Jesus a Seus discípulos, em Lucas 9:18-20:
18. Certo dia, Jesus orava em particular,
acompanhado apenas dos discípulos. Ele lhes perguntou: “Quem as multidões dizem
que eu sou?”. 19. Os discípulos responderam: “Alguns dizem que o Senhor é João
Batista; outros, que é Elias; e outros ainda, que é um dos profetas antigos que
ressuscitou”. 20. “E vocês?”, perguntou Ele. “Quem vocês dizem que Eu Sou?”
Pedro respondeu: “O Senhor é o Cristo enviado por DEUS!”.
Manning
(2014. p.138-140) traça algumas tendência
em todo cristão de "reimaginar" o Homem da Galiléia, de conceber um
tipo de Jesus com o qual possamos viver, de projetar um Cristo que confirme nossas
preferências e preconceitos, vejamos:
ü Para muitos hippies
dos anos 1960, Jesus era muito
semelhante a eles — agitador e crítico social, alguém que não se dobrou ao
sistema, profeta da contracultura;
ü Para muitos yuppies[i] dos
anos 1980, Jesus era o provedor de uma boa vida, o Senhor do spa, um jovem
executivo motivado com uma missão messiânica, profeta da prosperidade e da
limusine com chofer. Afinal de contas, ele não nos prometia cem vezes mais
nesta vida?;
ü Nos primórdios da era cristã, o "Jesus César".
Em seu nome, a igreja combinou riqueza e poder político com serviço professado a
DEUS: um casamento profano entre igreja e estado em que o papa em seu manto de
arminho e César em toga de seda se mancomunavam para construir impérios;
ü Encontramos a mesma aliança sacrílega na capital da nação
quando determinados líderes religiosos espreitam os corredores do poder
batizando alguns políticos e colocando outros na lista negra, sempre alegando encontrar
suporte no ensino de Jesus.
ü O "Jesus Apolo" veio em seguida: visionário
romântico, um belo líder humano sem nenhuma conotação controversa;
ü Tornou-se o herói dos charmosos e talentosos cavalheiros
do século XIX e começo do XX...
Em toda época e cultura tendemos a moldar Jesus à nossa
imagem e a maquiá-lo de acordo com nossas necessidades a fim de lidar com o
estresse que sua presença sem disfarce provoca. "Numa trincheira Jesus é um
esquadrão de resgate; na cadeira do dentista, um anestésico; no dia da prova,
um solucionador de problemas; numa sociedade afluente, um moderado bem barbeado;
para um habitante da América Central, um revolucionário barbudo". Se
pensamos em Jesus como amigo de pecadores, os pecadores são provavelmente nosso
tipo de gente.
Manning (2014) acaba afirmando: "Sei, por exemplo,
que Jesus é amigo de alcoólatras. Minha história pessoal e condicionamento cultural
tornam Jesus compatível e compassivo com pecadores seletos como eu. Tenho como
lidar com esse Jesus".
O mundo anseia pela resposta, não por palavras, mas, por
atitudes de verdadeiros Discípulos/Filhos de DEUS.
E a
pergunta ainda é a mesma que o Mestre fizera a Seus discípulos: "E vós,
quem dizeis que Eu Sou?".
Jesus é o revelador da natureza da Divindade, sendo
assim, somente Ele pode revelar a Paternidade incomparável de DEUS. Se
reuníssemos toda a bondade, sabedoria e compaixão dos melhores pais e mães que
já existiram, teríamos apenas uma leve sombra do amor e da misericórdia no
coração do DEUS redentor.
Para isso, basta olharmos para João 14:9-10, quando Ele
afirma: "Jesus
respondeu: “Filipe, estive com vocês todo esse tempo e você ainda não sabe quem
eu sou? Quem me vê, vê o Pai! Então por que me pede para mostrar o Pai? Você
não crê que eu estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que eu digo não
são minhas, mas de meu Pai, que permanece em mim e realiza suas obras por meu
intermédio".
Jesus é a expressão completa de DEUS!
Sendo assim, II Coríntios 5:17-19, afirma:
17. Logo, todo aquele que está em Cristo
se tornou nova criação. A velha vida acabou, e uma nova vida teve início! 18. E
tudo isso vem de DEUS, aquele que nos trouxe de volta para Si por meio de
Cristo e nos encarregou de reconciliar outros com Ele. 19. Pois, em Cristo, DEUS
estava reconciliando consigo o mundo, não levando mais em conta os pecados das
pessoas. E Ele nos deu esta mensagem maravilhosa de reconciliação.
Por meio do amor de Aba, através de Seu
Filhos Jesus Cristo, somos reconciliados, não importando nossos pecados, pois
não é pela Lei e sim por Sua Graça: "Vocês são salvos pela graça, por meio
da fé. Isso não vem de vocês; é uma dádiva de DEUS. Não é uma recompensa pela
prática de boas obras, para que ninguém venha a se orgulhar". (Efésios
2:8-9).
Somos constrangidos pelo amor do Pai e
esse amor, deve nos levar a uma mudança de atitude para com as pessoas,
conforme Ii Coríntios 5:14-16:
14. De qualquer forma, o amor de Cristo
nos impulsiona. Porque cremos que Ele morreu por todos, também cremos que todos
morreram. 15. Ele morreu por todos, para que os que recebem Sua nova vida não
vivam mais para si mesmos, mas para Cristo, que morreu e ressuscitou por eles. 16. Portanto, não
avaliamos mais ninguém do ponto de vista humano. Em outros tempos, pensávamos
em Cristo apenas do ponto de vista humano, mas agora o conhecemos de modo bem
diferente.
O cristianismo se move num clima completamente permeado
de amor, e somos chamados a uma vida de discipulado compatível com Ele - não
vivendo num nível pré-cristão, encarando DEUS apenas em termos de leis, regras
e obrigações. DEUS é amor. Apenas o amor de Jesus Cristo manifesto na cruz é
certo.
A experiência Aba é a origem e o segredo de Cristo, de
Seu Ser, Sua mensagem e modo de viver. É compreendida apenas por aqueles que a
compartilham. Enquanto não nos encontrarmos com o Pai de Jesus e não O
conhecermos como um Pai amoroso e perdoador, será impossível entender o
ensinamento de Jesus a respeito do amor.
As parábolas da misericórdia divina - a moeda perdida, a
ovelha perdida, o filho perdido - estão enraizadas na própria experiência de
Jesus com seu Pai. Ele fala à luz dessa realidade. Essas histórias destinavam-se
não apenas a defender Sua notória conduta pessoal ao lado dos pecadores, mas a
apanhar de surpresa seus críticos, abrindo uma fissura em seu modo convencional
de pensar a respeito de DEUS. Jesus alfinetava seus oponentes com palavras que
de fato significavam: "As prostitutas que não possuem qualquer integridade
imaginada para proteger estarão dançando no reino enquanto vocês terão sua
alegada virtude extinta!
Temos o privilégio de compartilhar a intimidade de Jesus
com Seu Pai. Somos chamados a viver e a comemorar a mesma liberdade que tornou
Jesus tão atraente e autêntico. Ao invés de julgar uma pessoa, é preciso
abraçá-la e expressar o amor de Jesus, ao ponto de se dizer: "Bem vindo ao
lar", como uma palavra autêntica vindo do nosso irmão Jesus Cristo.
Tantos cristãos acabam parando em Jesus. Permanecem no
Caminho sem chegar a onde o Caminho os conduz — ao Pai. Querem ser irmãos e
irmãs sem serem filhos e filhas. Neles se cumpre o lamento de Jesus: "Pai
justo, o mundo não te conheceu" (João 17:25). Como o Pai o amou, Jesus nos
amaria e nos convidaria a fazer o mesmo: "Amai uns aos outros assim como
eu vos amei". (João 15:12).
Por meio de um conhecimento íntimo de Jesus Cristo, aprendemos
a nos perdoar. À medida que permitirmos que Sua bondade, paciência e confiança
para conosco nos conquistem, seremos libertos daquela antipatia por nós mesmos
que nos persegue por onde vamos. E simplesmente impossível conhecer o amor de
Jesus por nós sem que alteremos nossa opinião e sentimento a respeito de nós
mesmos e nos unamos a Ele em seu amor de plena aceitação por nós. O perdão de
Cristo nos reconcilia com Ele, conosco e com toda a comunidade. Um modo de saber
como Jesus se sente a seu respeito é o seguinte: se você se ama intensa e
livremente, então seus sentimentos a seu respeito correspondem perfeitamente
aos sentimentos de Jesus.
"Já vos não chamarei servos [...] mas tenho-vos
chamado amigos" (João 15:15). Agostinho disse a respeito desse último
versículo: "Um amigo é alguém que sabe tudo a seu respeito e ainda assim o
aceita". Este é o sonho de que todos compartilhamos: conhecer um dia uma
pessoa com quem eu possa realmente conversar, que compreenderá a mim e as
palavras que digo, e ouça mesmo aquilo que não é dito - e continue ainda assim
a gostar de mim. Jesus Cristo é a realização desse sonho.
"Como o Pai me amou, assim eu também vos amei"
(João 15:9). Jesus nos ama como somos e não como deveríamos ser, já que nenhum
de nós é como deveria ser.
Se você abordasse Paulo e quisesse discutir a reforma paroquial
ou a adoração contemporânea, ele responderia: "Não tenho nenhuma
compreensão de igreja ou de religião que não seja a do homem sagrado, Jesus,
que me amou e se entregou por mim".
Tendemos a restringir nosso afeto e nossa aceitação para
alguns selecionados. Porém Jesus aprofunda a amizade humana da mesma forma que
aprofunda tudo que toca. Sem Ele, achamos difícil nos relacionarmos com determinadas
pessoas de modo amoroso e respeitador.
Certa cerimônia aliada a uma atitude crítica nos impede de
oferecer a essas pessoas o que elas mais carecem - encorajamento para sua vida.
A amizade de Jesus, porém, nos capacita a ver os outros como Ele via os Doze: imperfeitos,
mas bons, curadores feridos, filhos do Pai.
Descobrimos que somos compatíveis com um espectro amplo
de pessoas com as quais costumávamos não nos sentir à vontade e passamos a orar
como Thomas Merton[2]: "Obrigado, Senhor, porque sou como o restante dos homens".
Precisamos aprofundar as raízes de amor
de DEUS em nosso coração, por meio do amor que Ele verte por nós na vida de
outras pessoas. Efésios 3:17-19 nos diz:
17. Então Cristo habitará em seu coração à medida que vocês confiarem nEle. Suas raízes se aprofundarão em amor e os manterão fortes. 18. Também peço que, como convém a todo o povo santo, vocês possam compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Cristo. 19. Que vocês experimentem esse amor, ainda que seja grande demais para ser inteiramente compreendido. Então vocês serão preenchidos com toda a plenitude de vida e poder que vêm de DEUS.
Prestemos
atenção ao que o Apóstolo Paulo quis dizer: É impossível conhecer perfeitamente
o amor de Cristo. Precisamos abrir mão de nossas percepções empobrecidas,
farisaicas, tradicionalistas, legalistas e humanas acerca de DEUS e abrir-nos
para o DEUS em Jesus Cristo. Se o fizermos, temos a promessa de que seremos
inteiramente preenchidos pela plenitude de DEUS.
Efésios 4:13, fala: "até que todos
alcancemos a unidade que a fé e o conhecimento do Filho de Deus produzem e
amadureçamos, chegando à completa medida da estatura de Cristo".
Que DEUS nos capacite a amarmos mais do
que julgarmos as pessoas. Ele nos ama para que tenhamos uma caminhada em Vida
Plena.
REFERÊNCIAS
Bíblia Nova Versão
Transformadora. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/nvt>.
Acessado em: 03 jan. 2021.
MANNING, Brennan. A
assinatura de Jesus: o chamado a uma vida marcada por paixão santa e fé
inabalável. Traduzido por Maria Emília de Oliveira. 1 ed. São Paulo: Editora
Vida, 2014.
[1] Pastor - discípulo de Cristo -
e-mail: robinson.luis@bol.com.br - Redes sociais: @prrobinsonlaraujo - 05/01/21.
[i] Expressão inglesa
que significa "Young Urban Professional", ou seja, Jovem Profissional
Urbano. É um termo usado para se referir a jovens profissionais entre os 20 e
os 40 anos de idade, geralmente de situação financeira intermediária entre a
classe média e a classe alta. Os yuppies em geral possuem formação
universitária, valorizam bens materiais, trabalham em suas profissões de
formação e seguem as últimas tendências da moda. Disponível em: < https://www.significados.com.br/yuppies/#:~:text=Yuppies%20%C3%A9%20uma%20express%C3%A3o%20inglesa,m%C3%A9dia%20e%20a%20classe%20alta>.
Acessado em: 05 jan. 2021.
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