terça-feira, 15 de dezembro de 2020

ESTOU PREPARADO PARA AS RESPOSTAS DE MINHAS ORAÇÕES?

 


Robinson L Araujo[1]

 

De fato, existe um grande "problema" quando oramos é o de estar preparado para receber a resposta da oração.

Muitas vezes achamos que não sabemos ou temos capacidade para orar. Os discípulos de Jesus, mesmo andando algum tempo com Ele, em Lucas 11:1, um de seus discípulos pede: "...Senhor, ensina-nos a orar...". O curioso que naquele momento, Jesus estava orando em determinado lugar.

Já no livro de Mateus 6:5-8, o Senhor apresenta algumas maneiras de como orar e de como não orar, vejamos:

5. “Quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas, que gostam de orar em público nas sinagogas e nas esquinas, onde todos possam vê-los. Eu lhes digo a verdade: eles não receberão outra recompensa além dessa. 6. Mas, quando orarem, cada um vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, em segredo. Então seu Pai, que observa em segredo, os recompensará. 7. “Ao orar, não repitam frases vazias sem parar, como fazem os gentios. Eles acham que, se repetirem as palavras várias vezes, suas orações serão respondidas. 8. Não sejam como eles, pois seu Pai sabe exatamente do que vocês precisam antes mesmo de pedirem.

Assim, encontramos:

ü  Não usar a oração como forma de engrandecimento;

ü  Estar no secreto com DEUS;

ü  Não usar de vans repetições, o famoso "encher linguiça";

ü  O Pai Abba sabe do que precisamos antes mesmo de Lhe pedir.

Em seguida, Jesus Passa a lhes demonstrar de que forma se deve orar, versos de 9 a 13 de Mateus 6:

9. “Portanto, orem da seguinte forma: Pai nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome. 10. Venha o teu reino. Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. 11. Dá-nos hoje o pão para este dia, 12. e perdoa nossas dívidas, assim como perdoamos os nossos devedores. 13. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. Pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém.

Um modelo a ser seguido e não somente repetido, como um "mantra".

Outra característica que a oração deve ter, seria continuidade, como em I Tessalonicenses 5:17, que diz: "Nunca deixem de orar", em outras traduções: "orai sem cessar".

Quando se propõe a viver uma vida de oração sem cessar, creio que aqui somos levados ao quebrantamento de nosso ego pela crucificação dele na cruz do calvário. Daí, realmente começará, como falei no início, o nosso "problema" em orar e pedir ao Senhor.

Será que queremos realmente o que pedimos e estamos preparados para receber aquilo que pedimos por meio de nossas orações? Já orou ao Senhor pedindo para dedicar-se mais em sua vida de oração? Já orou para ter mais entendimento vivo e consciente da presença de DEUS dentro de você durante o dia? Para que Ele melhore seus relacionamentos e lhe dê humildade? Acho que não!

Por que então, quando o Senhor responde nossas preces, acabamos por nos retrairmos chocados e tristes, pelo fato da resposta ao que pedimos? Pedimos muitas vezes amadurecimento cristão e crescimento espiritual, porém não queremos - ao menos da maneira que o Senhor quer nos dar. Esquecemos que a resposta vem dEle e não é do desejo que desejamos.

O problema de orarmos é que DEUS responde as nossas orações! É a melhor forma de DEUS nos puxar para perto dEle.

"Senhor, faz de mim o que devo ser; muda-me, a qualquer custo". Ao proferir essas palavras perigosas, devemos estar preparados para que Deus as ouça. Essas são palavras perigosas porque o amor de Deus não tem remorsos. Deus quer nossa salvação com a determinação de sua devida importância. E, conclui o Pastor de Hermas: "Deus não nos deixa até que nos tenha partido o coração e os ossos". Ele ainda diz: "Devemos ser cuidadosos para não buscar experiências místicas quando deveríamos buscar arrependimento e conversão".

Daí vem às palavras de Jesus: "Aprendam de Mim, pois Sou manso e humilde de coração". (Mateus 11:29).

O que é ser humilde? É a dura percepção e aceitação do fato de que sou totalmente dependente do amor e da misericórdia de Deus. Ela cresce por meio de um despir-se de toda auto-suficiência. A humildade não se adquire com a repetição de frases piedosas; ela é executada pela mão de Deus. É Jó sobre o monturo vez após outra enquanto Deus nos lembra de que ele é a única esperança verdadeira. É a afirmação de Apocalipse 3:17 que afirma: "Você diz: ‘Sou rico e próspero, não preciso de coisa alguma’. E não percebe que é infeliz, miserável, pobre, cego e está nu".

Manning (2014. p.125) nos apresenta uma lenda cristã muito antiga:

Quando o Filho de Deus pregado à cruz entregou o espírito, foi diretamente da cruz ao inferno libertar todos os pecadores que estavam em tormento ali. O Diabo chorou e lamentou, porque pensava que não conseguiria mais pecadores para o inferno. Então Deus disse a ele: "Não chore, pois vou lhe mandar todos aqueles santos que se tornaram complacentes na consciência de sua bondade e cheios de justiça própria na condenação dos pecadores. E o inferno se encherá novamente por gerações até que eu volte"[2]

Na maior parte do tempo o cristão auto-suficiente está cego para suas arrogantes pretensões. Ele segue seu caminho feliz recitando frasezinhas piedosas como: "Jesus, mantém-me humilde". E por fim o Deus que não pode ser manipulado ou controlado replica: "Tudo bem. Você quer ser humilde? Esta sequência de humilhações e fracassos deve dar um jeito nisso".

A escola da humilhação é uma grande experiência de aprendizado; não há outra igual. Quando o dom de um coração humilde é concedido, aceitamo-nos mais e nos tornamos menos críticos dos outros. O autoconhecimento traz uma consciência humilde e realista de nossas limitações. Leva-nos a ser pacientes e compassivos para com os outros quando éramos antes exigentes, insensíveis e arrogantes. Desaparecem a complacência e a estreiteza de mente que tornam Deus supérfluo. Para a pessoa humilde, existe a constante consciência da própria fraqueza, insuficiência e desesperada carência de Deus.

É claro que a experiência mais devastadora da redução do ego acontece quando oramos: "Senhor, aumenta a minha fé". Temos de pisar com cuidado aqui, porque a vida de pura fé é como uma noite escura. Nesta "noite" DEUS permite que vivamos pela fé, e pela fé apenas. Uma fé madura não tem como crescer enquanto estamos empanturrados de todos os tipos de confortos e consolações espirituais. Todos esses devem ser removidos se é para avançarmos na direção da pura confiança em DEUS. O Senhor retira todas as escoras tangíveis a fim de nos purificar o coração, para discernir se estamos apaixonados pelos dons do Doador ou pelo Doador dos dons.

Muitas vezes as nossas orações tomaram um sentido superficial, são como um sino que soa na nossa alma vazia. O Espírito Santo que habita dentro de nós, convida-nos a sair da superficialidade e a penetrarmos em solo mais profundos.

É tranquilizador saber que o crescimento na fé tão desejado não está distante; que o amor e a misericórdia de DEUS não nos abandona, mesmo quando achamos que Ele foi "radical"em sua resposta a nossa oração.

Essa resposta a nossa oração de forma contrária ao que esperávamos, acaba por nos levar a um encontro com Jesus Cristo de uma forma diferente, marcando o começo de uma vida mais profunda de fé, na qual florescem alegria e paz, mesmo diante da "escuridão" que a resposta de nossa oração nos levou a experimentar, por não criarem raízes em sentimentos humanos de forma superficial, mas na profundidade da certeza misteriosa da fé de que Ele é o mesmo ontem, hoje e sempre. A alegria e a tristeza podem destruir os nossos sentimentos, mas sob essa superfície em movimento DEUS habita na escuridão. É lá que vamos encontrá-Lo; é lá que passamos a orar em paz e em silêncio, atentos ao DEUS cujo amor não conhece sombra de mudança.

DEUS acaba nos despindo de nossos encantamentos naturais e das consolações espirituais a fim de penetrar mais fundo em um relacionamento de intimidade em nosso coração. A nossa maturidade cristã está em conceder a DEUS a liberdade de exercer Sua sabedoria soberana em nós, sem que por frustração, abandonemos  uma vida de oração disciplinada, nem que corramos para as distrações que o mundo nos oferece.

É quando chegamos ao fundo do poço e somos esvaziados de tudo o que consideramos importante, então passamos a orar de verdade, tornamo-nos humildes e desapegados de verdade e vivemos na escuridão brilhante da fé. Em meio a esse esvaziamento, que temos a certeza que o Senhor não nos abandonou, Ele trabalhou para que os obstáculos que atrapalhavam minha comunhão com ele fossem retirados e passamos a desfrutar de uma comunhão mais profunda com Ele. Vejamos a diferença de oração, descrita em Lucas 18:10-14:

10. “Dois homens foram ao templo orar. Um deles era fariseu, e o outro, cobrador de impostos. 11. O fariseu, em pé, fazia esta oração: ‘Eu te agradeço, Deus, porque não sou como as demais pessoas: desonestas, pecadoras, adúlteras. E, com certeza, não sou como aquele cobrador de impostos. 12. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo que ganho’. 13. “Mas o cobrador de impostos ficou a distância e não tinha coragem nem de levantar os olhos para o céu enquanto orava. Em vez disso, batia no peito e dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, pois sou pecador’. 14. Eu lhes digo que foi o cobrador de impostos, e não o fariseu, quem voltou para casa justificado diante de Deus. Pois aqueles que se exaltam serão humilhados, e aqueles que se humilham serão exaltados”.

Nenhuma mente humana jamais compreendeu as profundezas da desolação da noite escura que o próprio Jesus Cristo viveu, a solidão e abandono completo por trás do clamor de Jesus descrito em Mateus 27:46: "Por volta das três da tarde, Jesus clamou em alta voz: “Eli, Eli, lamá sabactâni?”, que quer dizer: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”.

A cruz é o símbolo de nossa salvação e deve ser o padrão de nossa caminhada, pois, tudo o que aconteceu a Cristo, de certa forma acabou nos envolvendo e vivemos de alguma forma. Quando a escuridão chega, fruto de nossas orações, ela acaba nos envolvendo, tornando-nos surdos a tudo, menos ao grito de nossa própria dor e clamor, é bom sabermos que DEUS está traçando em nós o caráter de Seu Filho.

Para o Filho, a escuridão da noite abriu caminho para a luz da manhã, conforme Filipenses 2:9-11 que dia:

9. Por isso Deus o elevou ao lugar de mais alta honra e lhe deu o nome que está acima de todos os nomes, 10. para que, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre, nos céus, na terra e debaixo da terra, 11. e toda língua declare que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus, o Pai.

Estamos preparados para a resposta de nossas orações? Estou pronto para que o Senhor retire todas as estacas que possam impedir a minha comunhão plena para com Ele? E se a escuridão da noite chegar, qual será minha reação?

Que a oração de São Francisco de Assis, seja uma verdade em nossa vida...

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz

Onde houver ódio, que eu leve o amor

Onde houver ofensa, que eu leve o perdão

Onde houver a discórdia, que eu leve a união

Onde houver dúvida, que eu leve a fé

Onde houver erro, que eu leve a verdade

Onde houver desespero que eu leve a esperança

Onde houver a tristeza, que eu leve alegria

Onde houver trevas, que eu leve a luz

 

Ó mestre, fazei-me que eu procure mais, consolar que ser consolado

Compreender que ser compreendido

Amar, que ser amado

Pois é dando que se recebe

É perdoando que se é perdoado

E é morrendo que se vive para a vida eterna

 

 

 REFERÊNCIAS

Bíblia Nova Versão Transformadora. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/nvt>. Acessado em: 24 nov. 2020.

MANNING, Brennan. A assinatura de Jesus: o chamado a uma vida marcada por paixão santa e fé inabalável. Traduzido por Maria Emília de Oliveira. 1 ed. São Paulo: Editora Vida, 2014.



[1] Pastor - discípulo de Cristo - e-mail: robinson.luis@bol.com.br - Redes sociais: @prrobinsonlaraujo - 15/12/20.

[2] Anthony DEMELLO, The Song of the Bird, p. 134

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