Robinson
L Araujo[1]
Será que a frase
"O Cristão está no mundo, mas não pertence ao mundo", define nossa
realidade em Jesus Cristo? Ela, afirmaria que estar "no mundo sem pertencer
ao mundo" dá a entender que o cristão não é influenciado pelos valores da
cultura moderna e, principalmente capitalista, que encere em nossa mente, um
comportamento consumista, de que, tudo que "eu" quero, eu posso.
O
Apóstolo Paulo, em Romanos 12:2, adverte-nos:
Não
se ajustem demais à sua cultura, a ponte de não poderem pensar mais. Em vez
disso, concentrem a atenção em DEUS. Vocês serão mudados de dentro para fora.
Descubra o que Ele quer de vocês e tratem de atendê-Lo. Diferentemente da
cultura dominante, que sempre o arrasta para baixo, ao nível da imaturidade.
DEUS extrai o melhor de vocês e desenvolve em vocês uma verdadeira MATURIDADE.
( A Mensagem).
Aos
nossos olhos carnais e humanamente falando, não seria uma proposição absurda?
Gostemos ou não, estamos inseridos em uma sociedade/cultura que acaba nos
aprisionando a um conjunto de princípios políticos, econômicos, sociais e
espirituais que, acabam por modelar nosso estilo de vida, mesmo quando não
concordamos com eles.
Uma
reflexão cabe a se fazer: se a Igreja de Jesus Cristo - que é constituída por
eu e você, independente de placa e/ou doutrina - quiser preservar um senso
coerente de si mesma neste mundo decadente, dilacerado e violento, mas que
urgente, precisamos com base no Evangelho, fazer uma crítica a essa cultura que
nos leva para baixo, ao ponto da imaturidade. Caso contrário, essa Igreja
simplesmente se adaptará ao ambiente secular em uma trágica distorção do
Evangelho, na qual as palavras do Mestre são interpretadas para significar
qualquer coisa, tudo ou nada!
É
preciso que entendamos o chamado de Jesus e à simplicidade de vida oferecida
por Ele, estão, em oposição diametral ao consumismo imposto pela cultura, ao
ponto de confundir e condicionando os pensamentos ao ponto de se não pensar ou
mesmo descaracterizando a mente de Cristo em nós.
Se
pararmos para pensar no convite de Paulo, percebemos que a insistência do
convite de Jesus cristo para uma vida em simplicidade, acaba sendo um desastre
para a cultura moderna consumista. diferenciar o que é necessidade e/ou desejo.
O convite de Jesus é enérgico, quando afirmou em Mateus 6:24-34, vejamos:
24.
“Vocês não podem adorar dois deuses ao mesmo tempo. Amando um deus, acabarão
odiando o outro. A adoração a um alimenta o desprezo pelo outro. Vocês não
podem adorar a DEUS e ao Dinheiro.
25-26.
“Se vocês se decidirem por DEUS, vivendo para cultuá-lo, não ficarão aflitos
com a comida que terão de pôr na mesa ou se o guarda-roupa está fora de moda.
Há muito mais coisas na vida que a comida que vai para o estômago! Há muito
mais coisas para se ver que as roupas que vocês usam! Olhem para as aves,
livres e desimpedidas: não estão presas a nenhum emprego e vivem
despreocupadas, aos cuidados de DEUS. E vocês valem para ele muito mais que os
passarinhos!
27-29. “Será que alguém consegue ficar um centímetro
mais alto preocupado diante do espelho? Todo esse tempo e dinheiro gasto com
moda, pensam que faz muita diferença? Em vez de correr atrás da moda, caminhem
pelos campos e observem as flores silvestres. Elas não se enfeitam nem compram,
mas vocês já viram formas e cores mais belas? Os dez homens e mulheres da lista
dos mais bem vestidos iriam parecer maltrapilhos comparados às flores.
30-33. “Se DEUS dá tanta atenção à aparência das
flores do campo — e muitas delas nem mesmo são vistas —, não acham que ele irá
cuidar de vocês, ter prazer em vocês e fazer o melhor por vocês? Quero
convencê-los a relaxar, a não se preocuparem tanto em adquirir. Em vez disso,
prefiram dar, correspondendo, assim, ao cuidado de DEUS. Quem não conhece DEUS
e não sabe como ele trabalha é que se prende a essas coisas, mas vocês conhecem
DEUS e sabem como ele trabalha. Orientem sua vida de acordo com a realidade, a
iniciativa e a provisão de DEUS. Não se preocupem com as perdas, e descobrirão
que todas as suas necessidades serão satisfeitas.
34.
“Prestem atenção apenas no que DEUS está fazendo agora e não se preocupem
quanto ao que pode ou não acontecer amanhã. Quando depararem com uma situação
difícil, DEUS estará lá para ajudá-los”. (A Mensagem).
Por
vezes, em uma comunidade, somos alguém em virtude do tipo da casa em que
moramos, pelo tipo de carro que está guardado na garagem, pelas coisas que temos
dentro da casa, pelas roupas que vestimos, pelo "status quo" que apresentamos. A pessoa é medida pelo
dinheiro que ela gera e possui e a vida espiritual, acaba adquirindo a dimensão
que o "dinheiro" oferece. Muito se assemelha aos
"ministérios" pois, se o ministério daquela igreja é bem sucedido, é
em virtude de possuir um orçamento melhor. Outros acabam achando que, pelo fato
daquele "líder espiritual" ser bem sucedido - aos olhos humanos -
demonstra um relacionamento espiritual de intimidade com DEUS, diferente
daquele que vive em uma vida simplista. Realmente
somos um povo de DEUS no mundo, mas não do mundo?
A
isso, chamamos de evangelho da prosperidade! Uma frágil tentativa em acomodar
os ensinamentos de Jesus à cultura consumista, indo contrario ao ensinamento do
Mestre descrito na referência acima. MANNING (2014. P. 67) pergunta:
Será
que somos corajosos o suficiente para assinar uma negação ao consumismo
mediante a fé viva em Jesus Cristo? Estamos comprometidos o suficiente com Seu
Evangelho a ponto de nadar em direção contrária à correnteza? Ou estamos tão
acomodados à fé consumista dos nossos pais que a simplicidade da vida, a
distribuição de recursos e a total dependência da providência de DEUS deixaram
de ser relevantes? Como edificar o reino de DEUS na terra se o que incorporamos
na vida é o dogma da nossa cultura, e não a revelação de Jesus? Onde está a
assinatura de Jesus?
Faz-se
necessário dispor a assumir a responsabilidade pessoal pelas maneiras nas quais
a nossa fé tem se acomodado ao materialismo/consumismo, aos prazeres e
dominação que as "riquezas" proporcionam, mas nos afastam da
dependência de DEUS. É necessário uma pré disposição em nos arrependermos,
buscando uma reforma (interior) para
sermos renovados pois, a função profética e a obrigação da Igreja de Jesus
Cristo - um povo chamado em conjunto, separado e consagrado à adoração a DEUS -
é proclamar a paz e o amor de DEUS, bem como a não submissão a cultura
dominante em um mundo atormentado e quebrantado.
Gosto
das reflexões do Padre. Brennan Mannig. Talvez os "santos" julgariam
o aprendizado com uma pessoa não "evangélica" que ao meu ver, é mais
pastor do que muitos dos que venham a julgar. Assim, ele afirma que as pessoas
não devem olhar para a Igreja com a finalidade de reforçar os valores de sua
cultura, ou de nos domingos de manhã tirar a poeira dos ídolos para os quais
vivem durante a semana.
Talvez
a palavra ídolo trouxesse somente o significado de "imagem que é objeto de culto e
representa uma divindade"[2]. Ídolo não se trata
de somente uma imagem que os que se dizem evangélicos condenam, ele vai alem,
quando o dinheiro, os bens materiais, o trabalho, o bem estar, o próprio
ministério ocupam a primazia em minha vida, interferindo em meu relacionamento
com DEUS, colocando-O em segundo lugar.
Contrário
a nossa cultura, a Igreja primitiva foi edificada sobre um pequeno grupo de
pessoas, onde passaram a possuir as coisas em comum, os que mais tinham vendiam
e ofertavam para aqueles que pouco tinha, com o propósito de que
"ninguém" passasse dificuldades. Eles eram uma evidência de uma
alternativa a cultura da época. Hoje, precisamos de pessoas que ecreditem em
tudo o que o Evangelho diz; que percebam o que DEUS está fazendo no nosso tempo
e que sejam provas vivas do que significa estar no mundo e não ser do mundo. A
proporção seria o suficiente para que haja intimidade, afinidade, reciprocidade
em perdoar, que deem apoio e demonstre compreensão. Como no caso do próprio
Jesus, que apresentou a primeira comunidade cristã baseada em Seu
relacionamento com os "doze" discípulos.
É
possível viver no mudo sem pertencer a este mundo? Sim! Em II Coríntios 5:20, Paulo
afirma que somos embaixadores de Cristo: "Agora, portanto, somos embaixadores de Cristo; Deus faz
seu apelo por nosso intermédio. Falamos em nome de Cristo quando dizemos:
“Reconciliem-se com Deus!”.
Um embaixador representa sua nação em outra
nação que não é a sua. Ainda Lucas 18:27, o próprio Jesus afirmou: "Jesus
respondeu: “O que é impossível para as pessoas é possível para Deus”.
O
cristão que vive no mundo sem pertencer ao mundo é um sinal de negação às
concessões com as quais muitas pessoas se confortam dentro da Igreja. O
discípulo de Jesus foi feito para parecer e se sentir tolo. No entanto, os
tolos, por Cristo, fundaram a Igreja primitiva. O Apóstolo Paulo afirmou:
"Quanto a mim, que eu
jamais me glorie em qualquer coisa, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus
Cristo. Por causa dessa cruz meu interesse neste mundo foi crucificado, e o
interesse do mundo em mim também morreu. Não importa se fomos circuncidados ou
não. O que importa é que fomos transformados em nova criação". (Gálatas
6:14-15).
E é
por meio dessa firmação que muitos consideram uma verdadeira tolice, sendo a
única esperança que temos de libertação. Os verdadeiros discípulos veem o
cristianismo como meio de vida tanto diante quanto fora do alcance das
"câmeras".
Lembremos
do que Jesus disse que não devemos subestimar o poder da nossa cultura. O nosso
mundo repleto de tolices incríveis insiste em que somos tolos. A morte e
Ressurreição de Jesus Cristo, porém, nos convence da sabedoria de DEUS e de Seu
poder para transformar o mundo. A nossa fé no Jesus ressurreto é o poder que
vence a nós mesmos, à cultura e ao mundo.
Estou
no mundo? Sim!
Pertenço
a esse mundo? Não!
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REFERÊNCIAS
Bíblia Nova Versão
Transformadora. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/nvt>.
Acessado em: 24 nov. 2020.
MANNING, Brennan. A
assinatura de Jesus: o chamado a uma vida marcada por paixão santa e fé
inabalável. Traduzido por Maria Emília de Oliveira. 1 ed. São Paulo: Editora
Vida, 2014.
PETERSON,
Heugene H. Bíblia A MENSAGEM em
Linguagem Contemporânea. São Paulo: Editora Vida, 2011.
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