Robinson
L Araujo[1]
De fato, faz-se
necessário pensarmos e termos a convicção sobre em que consiste o Reino de
DEUS. A primeira afirmativa é que o Reino de DEUS não consiste em palavras, mas
em Poder, fonte de transformação e informação. É a essência do poder
transformador do Evangelho, que ora, fora vertido ao olharmos e vermos que a
cruz se encontra vazia.
Outra
afirmativa que não se pode fugir, é que esse Poder que transcende todo o
entendimento humano, é poderoso o suficiente para transformar. Tanto é que o
Apóstolo Paulo escreve em Hebreus 4:12-13:
12.
Tudo o que DEUS diz é sério. O que Ele diz, acontece. Sua poderosa Palavra é
aguda como o bisturi e capaz de cortar tudo, seja dúvida, seja desculpa,
mantendo-nos abertos para ouvir e obedecer. 13. Nada - nem ninguém - está fora
do alcance da Palavra de DEUS. Não se pode fugir dela - não há como. (A
Mensagem).
Em
outras versões é uma poderosa espada de dois gumes ou, afiada dos dois lados da
sua lâmina, com poder de penetrar entre alma e espírito, entre juntas e
medulas, separando aquilo que a minha alma deseja, dando lugar ao que importa
para o meu espírito! Isso porque, a vida espiritual é simplesmente a vida vivida
com a visão da fé. E viver em fé, é estar alicerçado em Hebreus 11:1, que
define: "O fato essencial da existência é que esta confiança em DEUS, esta
fé é o alicerce sólido que sustenta qualquer coisa que faça a vida digna de ser
vivida. É pela fé que lidamos com o que não podemos ver". (A Mensagem).
Assim, o exercício de fé que leva-nos a dimensão de
separar os desejos do coração (alma) com a vontade dado pelo Poder da Palavra
(espiritual), concede-nos uma certeza: "Há uma única espiritualidade na
igreja do Senhor Jesus: a espiritualidade
pascal. Essencialmente, é nossa morte
diária para o pecado, o egoísmo, a desonestidade e o amor degradado a fim de
nos alçarmos à novidade de vida". (Manning, 2014).
É a afirmação de Paulo: "Não sou mais eu quem vive,
mas Cristo vive em mim" (Gálatas 2:20). Cada vez que desfechamos um golpe
mortal no ego, cada vez que escolhemos caminhar aquela milha adicional, por
oferecer a outra face, abraçar em vez de rejeitar, somos compassivos em vez de
competitivos, beijamos em vez de morder, perdoamos e nos abstemos de massagear
a contusão mais recente de nosso ego ferido, estamos passando da morte para a
vida.
Sendo assim, Paulo nos conclama para uma mudança de
atitude, oferecida somente pelo Poder que foi e é vertido da cruz, levando-nos
a conversão, ou seja, a uma metanoia, significando uma transformação radical do
nosso "eu". Para isso, MANNING (2014. P.101) diz:
Descobrimos que um relacionamento pessoal com Jesus
Cristo não pode mais ser contido num código de permissões e proibições. Ele se
toma como escreveu Jeremias, uma aliança escrita nas tábuas de carne do coração
e gravada no mais profundo de nosso ser. A conversão nos abre para uma nova
agenda, novas prioridades, uma diferente hierarquia de valores. Ela nos faz
migrar de professar Jesus como Salvador a confessá-lo como Senhor, de uma
descuidada acomodação de fé em nossa cultura a uma fé vivida na verdade
consumidora do Evangelho.
Muitas vezes, queremos transformar as pessoas pela
intimidação das regras que uma determinada "doutrina" empoe na vida
das pessoas, querendo igualar o Poder do Evangelho em regras e costumes, em
"achismos" totalmente desprovidos do amor de DEUS.
A isso, HEAGLE (1981. P. 34) instrui:
O oposto de conversão é aversão. O outro lado da metanoia
é paranóia. A paranóia é geralmente compreendida no sentido psicológico. É caracterizada
por medo, suspeita e fuga da realidade. A paranóia resulta comumente em elaboradas
alucinações e auto-ilusão. No contexto bíblico, a paranóia implica mais do que desequilíbrio
emocional ou mental. Ela se refere a uma atitude de ser, uma postura do
coração. A paranóia espiritual é uma fuga de DEUS e de nosso verdadeiro eu. É
uma tentativa de escapar da responsabilidade pessoal. É a tendência de evitar a
o custo do discipulado e buscar uma rota de fuga das exigências do Evangelho. A
paranóia de espírito é uma tentativa de negar a realidade de Jesus de tal modo
que racionalizamos nosso comportamento e escolhemos o próprio caminho.
A paranóia acaba por nos levar a viver um evangelho da
graça de péssima qualidade, tão barato que seu significado perde valor. Acaba
por diluir a fé em uma mistura morna da Bíblia, uma espiritualidade que não nos
leva ao verdadeiro discipulado em se ter a mente de Cristo, adquirido por Sua
morte e ressurreição, trazendo vida e vida abundante (João 10:10).
Quando o Poder, que constitui o Reino de DEUS provoca uma
metanoia em nossa mente pelo ato salvístico de Cristo morto e ressurreto,
passa-se a vivenciar algumas características da espiritualidade vertida naquela
cruz, apontadas por Brennan, sendo elas:
·
A espiritualidade vertida pelo Poder do
Evangelho é Cristocêntrica, ou seja, é por meio de Cristo, por Cristo e em
Cristo
Nada que sobreponha Cristo deverá assumir a primazia em
nossa vida. Muitos acabam por dar demasiado destaque aos próprios dons
espirituais, deixando-se em segundo plano o mistério da morte e da
ressurreição.
A pergunta feita
por três vezes a Pedro foi: Você me ama? Sendo ainda, o critério pelo qual
Cristo avalia Seus amigos e os que O rejeitam continua a ser: "Você me
ama?". Para João, em sua carta, na comunidade cristã a dignidade não se
constitui apostolado ou cargo, nem títulos, dons de profecia ou curas, nem
pregação inspirada, mas somente intimidade com Jesus. Esse é o status de que todos os cristãos deveriam desfrutar em sua
totalidade.
Raymond E. Brow[2], afirmou em seu livro: As Igrejas dos Apóstolos:
Todos os cristãos são discípulos, e entre eles a grandeza
é determinada por um relacionamento amoroso com Jesus, não por função ou cargo
Cargos eclesiásticos e até mesmo o apostolado são de menor importância quando
comparados ao discipulado, que é literalmente questão de vida ou morte. Dentro
desse discipulado não há cristãos de segunda classe.
O
que se precisa ter em mente é que, se a nossa jornada cristã não produzir
Cristo em nós, se a passagem dos anos não formar Jesus em nós de tal maneira
que nos tronemos semelhantes a Ele, nossa espiritualidade está falida. Apenas o amor de Jesus
Cristo concede status
na
comunidade cristã.
Brennan (2014) leva-nos a pensar que fomos chamados a
sermos uma manifestação única e singular da verdade e do amor de Cristo, não
uma cópia em papel-carbono de outra pessoa.
·
A
espiritualidade vertida pelo Poder do Evangelho tira-nos do egocentrismo e nos
projeta ao corpo, comunidade do povo de DEUS
A espiritualidade pascal afirma que o teste mais verdadeiro
do discipulado é o modo que vivemos uns com s outros na
comunidade da fé. E simples e exigente assim. Em nossas palavras e nossos atos
damos formato e forma a nossa fé a cada dia. Fazemos as pessoas um pouquinho
melhores ou as deixamos ainda piores. Afirmamos ou desprovemos, ampliamos ou
diminuímos a vida dos outros. I João 4:19-21, afirma-nos:
19. Nós amamos porque ele nos amou
primeiro. 20. Se alguém afirma: “Amo a Deus”, mas odeia seu irmão, é mentiroso,
pois se não amamos nosso irmão, a quem vemos, como amaremos a Deus, a quem não
vemos? 21. Ele nos deu este mandamento: quem ama a Deus, ame também seus
irmãos.
A
vida cristã deve ser vivida em comunidade, não de forma individualizada, como
que a salvação caberia somente a mim. É a vida em comunidade que demonstra uma
imitação radical da Santa Trindade, que significa: Diálogo, amor espontâneo e
relacionamento.
Ainda
para Manning (2014), de
acordo com o critério evangélico de santidade, a pessoa mais próxima do coração
de Jesus não é a que ora mais, a que mais estuda a Escritura ou a que tem confiada
a si a posição de maior responsabilidade espiritual. É quem mais ama, e essa
não é opinião minha. É a Palavra que nos julgará.
·
A
espiritualidade vertida pelo Poder do Evangelho considera a natureza humana
como decaída, mas redimida
Gênesis 1:31, afirma: " Então Deus olhou para tudo que havia
feito e viu que era muito bom. A noite passou e veio a manhã, encerrando o
sexto dia". Diferentemente de tudo que criara, no final do dia, DEUS
olhava e dizia: "e viu DEUS que era bom". Mas, diferentemente, após
formar o homem, a postura declaratória de DEUS mudou, Ele afirmou: "Viu
que era muito bom".
Fomos criados pela essência do Pai, sem
pecado, pelo soprar de Seu fôlego a qual nos fez alma vivente e nos tornamos
"caídos" pela desobediência de nossos pais, tornando-nos pessoas
carentes de Sua misericórdia.
A espiritualidade transbordante pelo Poder radiante da
cruz, recupera o elemento de deleite na criação. Imagine o êxtase, o brado de
alegria quando DEUS fez uma pessoa em sua própria imagem! Quando Deus fez você!
O Pai deu você como presente a si mesmo. Você é uma resposta ao vasto deleite
de DEUS. Dentre um infinito número de possibilidades, DEUS investiu em você e
em mim com a existência.
·
A
espiritualidade vertida pelo Poder do Evangelho é selada pelo sofrimento de
Cristo na cruz
Brennan
(2014) nos afirma que Não
há cristianismo genuíno no qual o signo da cruz está ausente. Graça barata é
graça sem a cruz, um assentimento intelectual à empoeirada casa de penhores de
crenças doutrinárias ao mesmo tempo que se é levado sem direção pelos valores
culturais da cidade secular. O discipulado sem sacrifício gera um cristianismo confortável
praticamente indistinguível, em sua mediocridade, do resto do mundo. A cruz é
tanto o teste quanto o destino de um seguidor de Jesus.
A pregação morna e a adoração sem vida têm espalhado
tantas cinzas sobre o fogo do evangelho que mal sentimos seu ardor. Tornamo-nos
tão habituados ao último fato cristão — Jesus nu, exposto, crucificado e ressurreto
— que não mais o vemos pelo que é: um chamado a nos despirmos de preocupações
terrenas e sabedoria mundana, de todo o desejo por louvor humano, da cobiça por
qualquer espécie de conforto (incluindo consolações espirituais). E uma
convocação à prontidão para nos levantarmos e sermos contados como pacificadores
num mundo violento. É um chamado para abrirmos mão da fantasia de que não somos
de fato mundanos (o ripo de mundanismo que prefere a tarefa mais atraente à
menos, e leva-nos a investir mais em gente que queremos impressionar). Mesmo o
último trapo ao qual nos apegamos — a autobajulação que sugere que estamos
sendo humildes quando recusamos admitir qualquer semelhança com Jesus Cristo —,
até mesmo esse trapo deve cair quando ficamos face a face com o Filho de Deus
crucificado.
A espiritualidade transmitida pela cruz nada mais é do
que o cativeiro a Cristo apenas, uma completa ligação a sua pessoa, um compartilhar
do ritmo de sua morte e ressurreição, uma participação em sua vida de tristeza,
rejeição, solidão e sofrimento.
·
A
espiritualidade vertida pelo Poder do Evangelho transmite alegria e paz
Os
cristãos são chamados para crer em um DEUS que ama e em Seu Cristo ressurreto.
É preciso crer e crer veemente. Crer e crer alegremente. O teólogo Robert
Hotchkins menciona que os cristãos devem comemorar constantemente, quando
afirma:
Devemos estar preocupados com festas, banquetes, folias e
festejo. Devemos entregar-nos a verdadeiras orgias de júbilo por causa de nossa
crença na ressurreição. Devemos atrair as pessoas para nossa fé literalmente
pelo quanto é divertido ser cristão. Infelizmente, no entanto, logo também nos
tornamos sombrios, austeros e pomposos. Somos o oposto de nossa própria
tradição, porque tememos perder tempo ou ficar amarrados. Nas palavras de
Teresa de Ávila: "de tolas devoções e santos de cara amarrada, livrai-nos,
Senhor!".
Essa
é a fonte da alegria, do contentamento e do riso cristão: "Ele não está
aqui, já ressuscitou" (Mateus 28:6-8). A vitória de Jesus Cristo no Calvário
apresenta-nos apenas duas alternativas lógicas: ou você crê na ressurreição e,
por conseguinte, crê em Jesus de Nazaré e no evangelho que ele pregou, ou crê
na não-ressurreição e não crê em Jesus de Nazaré e no evangelho que ele pregou.
·
A
espiritualidade vertida pelo Poder do Evangelho vê as pessoas como seres
livres, libertas
João
8:32 nos afirma: "Então
conhecerão a verdade, e a verdade os libertará”. O poder que é vertido da cruz
irradia sobre nossa vida e nos torna livres. Ainda Gálatas 5:1, nos fala:
"Portanto, permaneçam firmes nessa liberdade, pois Cristo verdadeiramente
nos libertou. Não se submetam novamente à escravidão da lei".
Muitas vezes, a igreja
"institucional" ou, como gosto de afirmar: "a igreja CNPJ",
é desleal quando a si quando desrespeita a liberdade dada por Cristo na cruz,
Somos Livres, Libertos, Sarados, Curados...
DEUS nos criou a Sua imagem com a vontade
para que trabalhássemos com responsabilidade e liberdade. Porém, quando a
virtude da obediência se reduz a uma forma de dominação e submissão, produzimos
covardes treinados em vez de pessoas cristãs.
Não quero contrapor ao registro de
Hebreus 13:17, que afirma: "Obedeçam a seus líderes e façam o que
disserem. O trabalho deles é cuidar de sua alma, e disso prestarão contas.
Deem-lhes motivo para trabalhar com alegria, e não com tristeza, pois isso
certamente não beneficiaria vocês". Isso não diz respeito a obediência
cega, fora da realidade do contexto cristão.
Se de fato conhecêssemos o Deus de Jesus, pararíamos de
tentar controlar e manipular os outros "para seu bem", sabendo
perfeitamente que não é assim que Deus trabalha entre seu povo. Paulo escreve:
"Onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade" (II Coríntios 3:17).
Realmente o reino de DEUS consiste em Poder, apoderado
pela Sua Palavra, que transforma a mente e coração, proporcionando uma mudança
radical na forma de pensar e agir. Uma transformação não de aparência e sim,
que urge de dentro para fora, separando alma e espírito, juntas e medulas, para
uma caminhada em Vida Plena.
REFERÊNCIAS
Bíblia Nova Versão
Transformadora. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/nvt>.
Acessado em: 11 dez. 2020.
HEAGLE, John. On the Way. Chicago: Thomas More Press,
1981. P. 34.
MANNING, Brennan. A assinatura
de Jesus: o chamado a uma vida marcada por paixão santa e fé inabalável.
Traduzido por Maria Emília de Oliveira. 1 ed. São Paulo: Editora Vida, 2014.
PETERSON,
Heugene H. Bíblia A MENSAGEM em
Linguagem Contemporânea. São Paulo: Editora Vida, 2011.
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