Robinson
L Araujo[1]
Interessante é se aventurar em entregar o
comando do futuro a DEUS. Muitas vezes, queremos entregar, mas, na intenção de
permanecer dando as cartadas ao Senhor. Entretanto, não é dessa forma que Ele
age em nossa vida, família e futuro. A Ele, tudo pertence e foi o que Abrão
compreendeu.
Sendo assim, convido você a se locomover
como Abrão e depois, Abraão. Um caminho para o desconhecido - humanamente,
porém, traçado - espiritualmente. Vejamos Gênesis 12: 1-7, quando Jeová define
o incerto em sua vida:
1. O Senhor tinha dito a Abrão: “Deixe
sua terra natal, seus parentes e a família de seu pai e vá à terra que eu lhe
mostrarei. 2. Farei de você uma grande nação, o abençoarei e o tornarei famoso,
e você será uma bênção para outros. 3. Abençoarei os que o abençoarem e
amaldiçoarei os que o amaldiçoarem. Por meio de você, todas as famílias da
terra serão abençoadas”. 4. Então Abrão partiu, como o Senhor havia instruído,
e Ló foi com ele. Abrão tinha 75 anos quando saiu de Harã. 5. Tomou sua mulher,
Sarai, seu sobrinho Ló e todos os seus bens, os rebanhos e os servos que havia
agregado à sua casa em Harã, e seguiu para a terra de Canaã. Quando chegaram a
Canaã, 6. Abrão atravessou a terra até Siquém, onde acampou junto ao carvalho
de Moré. Naquele tempo, os cananeus habitavam a região. 7. Então o Senhor
apareceu a Abrão e disse: “Darei esta terra a seus descendentes”. Abrão
construiu um altar ali e o dedicou ao Senhor, que lhe havia aparecido.
O que se observa aqui é que, a experiência espiritual se
tornou uma intimação: DEUS está no comando e o futuro a Ele pertence.
O que podemos perceber? Em primeiro lugar: DEUS tem o seu
tempo certo; em segundo: O Senhor escolhera Abrão para que fosse pai de uma
grande nação; terceiro; Somente DEUS transformaria a vida dele em bênção para
todos os filhos infelizes e desorientados deste mundo.
Abrão estava enraizado em sua terra, possuía seus bens,
família e sua religião com crendices que foram lhe introduzidas por seus pais e
local onde vivia, a tradição. Observe que DEUS o convida à abandonar tudo.
Talvez, para eu e você, seria uma afronta e desestabilização de nosso cotidiano
e vida que estamos acostumados a levar em nosso mundinho. Mas, o Senhor tem um
propósito para cada um de nós, o problema é como e com qual confiança nos interessamos
ao ponto de abandonar tudo e partir para o desconhecido em obediência ao
chamado de DEUS.
Hebreus 11:8, afirma: "Pela
fé, Abraão obedeceu quando foi chamado para ir à outra terra que ele receberia
como herança. Ele partiu sem saber para onde ia". MANNING
(2014, p. 16), afirma: "A
realidade da vida para homens e mulheres cristãos exigem que saiam de onde
estão enraizados, daquilo que é óbvio e seguro, e entrem no deserto sem
explicações racionais que justifiquem suas decisões ou deem garantias para o
futuro. Por quê? Porque DEUS sinaliza esse movimento e oferece Sua promessa. Só
isso".
Quando percebemos o chamado de DEUS em
nossa vida, como Abrão percebeu, é o caminho para que o Evangelho convença as
pessoas a quem gostaríamos que entendessem do amor de DEUS. Caso contrário, o
Evangelho não convencerá ninguém, a não ser que convença a nós mesmos de que
somos transformados por ele.
Para isso, MANNING (2014, p. 17) explica:
Depois de dois mil anos de história da
Igreja, por que só um terço da população mundial aceitou a Cristo? Por que a
personalidade de muitos cristãos piedosos é tão opaca? Por que o filósofo
Friedrich Nietzsche repreende os cristãos por "aparecerem não estar
salvos?" por que raramente ouvimos aquilo que o antigo advogado disse a
respeito de Jonh Vianney: "hoje me aconteceu algo extraordinário. Vi
Cristo em um homem?" Por que a nossa alegria, o nosso entusiasmo e a nossa
gratidão não contagiam os outros com o anseio de Cristo? Por que o fogo e o
espírito de Pedro e Paulo estão tão claramente ausentes na nossa pálida
existência? Talvez porque poucos de nós tenhamos empreendido a jornada da fé
para atravessar o abismo entre o conhecimento e a experiência. Preferimos ver o
mapa a visitar o lugar. O fantasma da realidade da nossa falta de fé
convence-nos de que a experiência não é real; real é a explicação que damos a
experiência.
Importante frisar que as nossas crenças,
acabam por distanciar-nos do domínio da nossa experiência pessoal. Se Abrão,
não abandonasse seus conceitos preconcebidos de religião, conhecimento que
tinha de DEUS, transmitidos pela comunidade em que vivia e suas tradições, não
viveria a maravilhosa oportunidade de ser chamado de Abraão.
Oportuna as palavras de Daniel Taylor[2]
A mentalidade secular faz o jogo da dúvida quase
exclusivamente e, em geral, zomba de quem não a segue. Ironicamente, no
entanto, a Igreja também faz esse jogo em alguma medida. O mistério do
Evangelho, o paradoxo da encarnação e o maravilhoso enigma da graça permanecem
congelados em um sistema altamente racionalizado e/ou autoritário de teologias,
códigos, regras, prescrições, ordem de serviço e formas de governar a Igreja.
Tudo é anotado, tudo é organizado, a fim de que tudo possa estar definido e os
transgressores possam ser detectados.
A caminhada de Harã para Canaã é a jornada em meio ao
abismo. Sendo assim, é preciso passar definitivamente das crenças para a fé.
Sim, somos chamados a crer em Jesus. Mas, a nossa crença, nos convida a algo
maior: a exercer fé nEle. A fé é o que nos forçará a buscar a mente de Jesus Cristo,
a adotar uma vida de oração, abnegação, bondade e envolvimento para edificar o
Reino de DEUS, não o nosso.
Muitos cristãos continuam temerosos em abandonar as
tradições para o exercício da fé, por ainda se apegarem a uma ideia de DEUS
muito diferente daquele pregado por Seu Filho. Preferem continuar em Harã,
mantendo intactos seus velhos sistemas de crenças. Acreditam que podem salvar a
si mesmos se permanecerem imóveis e sem respirar, ou se embarcarem em aventuras
heróicas de jejuns ou vigílias, na esperança de conseguirem a aprovação de DEUS
na força. Isso não quer dizer que os jejuns e as vigílias não fazem parte,
simplesmente não são as coisas mais importantes a serem feitas.
Faz-se necessário se agarrar ao convite de Cristo:
- Ao ouvir isso, Jesus disse a Jairo:
“Não tenha medo. Apenas creia, e ela será curada”. (Lucas 8:50);
- “Não tenham medo, pequeno rebanho,
pois seu Pai tem grande alegria em lhes dar o reino. (Lucas 12:32);
- Imediatamente, porém, Jesus lhes
disse: “Não tenham medo! Coragem, sou eu!”. (Mateus 14:27).
DEUS está convidando a cada um de nós
para que saiamos de nosso lugar de conforto, abandonando o conforto e a segurança
do status quo, e embarcar na
arriscada liberdade da viagem rumo à nova terra que Ele tem separado para cada
um de nós, a nova Canaã. Deixando todo o medo que possa adentrar ao coração no
caminho para o que nós não temos por certeza.
O que precisamos entender é que, o convite para a jornada
de Harã para Canaã é de cunho pessoal e intransferível! Se você ou eu não
quisermos, não têm problema para Ele, as consequências serão nossas. Sendo o
convite pessoal, Ele chamará outros a se aventurarem pela caminhada da fé!
A pergunta que devemos responder é se creio em Jesus ou
nos pregadores, mestres e nuvens de testemunhas que falam dEle? Será que o
Cristo no qual eu creio é realmente meu, ou é aquele dos teólogos, pastores,
progenitores? Ninguém - pais, amigos ou igreja - pode nos absolver dessa
decisão pessoal e fundamental a respeito da natureza e da identidade do filho
de Maria e José. A pergunta de Jesus a Pedro - Quem vocês dizem que Eu sou? Ainda
eco até hoje em nossa mente, sendo dirigida a todos aqueles que anseiam em ser
discípulos do Mestre.
O que é certo é que DEUS não elege necessariamente aqueles
que possuem uma linhagem impecável para realizar Sua obra neste mundo. Ele
busca pessoas dispostas a abandonar o conforto que a estabilidade proporciona e
se aventurar no desconhecido, diante de Seu convite e desafio.
A verdade é que muitos deixam de receber as bênçãos de
ministrar aos outros porque acreditam que DEUS usa somente os perfeitos ou
quase perfeitos. É possível se ver em nosso cotidiano e na Sua Palavra que o
oposto é verdadeiro. DEUS, quase sempre, usa pessoas com grandes imperfeições
ou que passaram por grandes sofrimentos, para realizar muitas tarefas
importantes em Seu Reino. Ninguém é imperfeito demais para ser usado por DEUS.
I Coríntios 1:27-28 nos afirma:
27. Pelo contrário, Deus escolheu as
coisas que o mundo considera loucura para envergonhar os sábios, assim como
escolheu as coisas fracas para envergonhar os poderosos. 28. Deus
escolheu coisas desprezadas pelo mundo, tidas como insignificantes, e as usou
para reduzir a nada aquilo que o mundo considera importante.
Quantos personagens bíblicos, quantos profetas foram
usados por DEUS e não tinham um padrão impecável de vida? Davi preferiu mata
para esconder seu adultério ao invés de reconhecer seu erro; Jonas acha melhor
fugir do que obedecer ao ide do Senhor; O próprio Jesus Cristo, tendo seu
nascimento antes de completar a rotina do casamento de José e Maria na época,
ao ponto de José querer fugir para preservar Maria; Chamado de mentiroso,
endemoninhado, pecador...
É isso mesmo, é esse homem que nos chama para dedicarmos
nossa vida a Ele, que a vida não tem nenhum significado sem Ele. É nesse homem
que a origem de nossa fé deve ser encontrada. Um homem de nascimento obscuro e,
portanto, vulnerável a desconfiança, morreu como criminoso. É esse DEUS que se
fez homem, prova a cada um de nós que a substância da nossa fé deveria
consistir na convicção de que pessoas ilegítimas, pecadoras e criminosas podem
dizer: "ABA" a DEUS: que prostitutas podem entrar no Reino de DEUS
antes dos religiosamente respeitáveis - que não se trata de uma visão de fé
acessível à especulação e ao bom senso.
A nossa fé inclui as nossas crenças, mas também as
transcende, porque a realidade de Jesus Cristo não pode ser confinada a
formulações doutrinárias. O dom da minha fé em Jesus Cristo não está na dependência
ou sob o domínio de nenhum poder fora da minha experiência da graça de DEUS. Quando
as crenças substituem a experiência verdadeira; quando passamos a confiar na
autoridade dos livros, instituições ou lideres sem que o conheçamos; quando
permitimos que a religião se interponha entre nós e a experiência primária de
Jesus como o Cristo, perdemos a realidade que a própria religião descreve como
suprema.
Precisamos conhecer o amor e o poder de DEUS com um
entendimento maior que o nosso, porque o amor e o poder de DEUS ultrapassam o
simples conhecimento humano.
A cruz é a assinatura permanente do Cristo ressurreto. O modo
de vida assinado pela cruz exige uma fé desprovida de sentimentos, êxtase e
visão. II Coríntios 5:7 nos afirma: "Porque
vivemos por fé, e não pelo que vemos".
Não precisamos teorizar acerca de Jesus;
precisamos fazê-Lo presente no nosso tempo, na nossa cultura e nas nossas
circunstâncias. Como afirmou o filósofo francês Maurice Blondel: "Se você
quiser entender aquilo em que o homem crê, não preste atenção no que ele diz,
mas observe o que ele faz".
É necessário que abandonemos nosso
discurso farisaico, onde as pessoas só escutam a respeito de Cristo e, ao se
intencionarem em conhecer a Cristo, abandonam as expectativas, pois nosso
discurso difere de nossa maneira de viver Cristo. Misericórdia!
O que Jesus anseia ver em seus
discípulos? O mesmo que Ele viu nas criancinhas: um espírito de receptividade
pura e simples, dependência completa e confiança radical no poder, na
misericórdia e na graça de DEUS mediante o Espírito de Cristo. Ele declarou:
"“Sim, eu sou a videira; vocês são os ramos. Quem permanece em mim, e Eu
nele, produz muito fruto. Pois, sem mim, vocês não podem fazer coisa alguma".
(João 15:5).
Obedecer ao desafio! Acreditar no que os olhos não podem
ver, aceitar ao chamado de que Ele fará maravilhas, é uma realidade para
aqueles que desejam ser chamados de discípulos do Senhor.
O convite está aberto para nós. A garantia de viver em
Vida Plena aqui na terra dependerá do sim que sairá de minha boca.
E você, aceitaria o convite do Senhor?
REFERÊNCIAS
Bíblia Nova Versão
Transformadora. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/nvt>.
Acessado em: 22 nov. 2020.
MANNING, Brennan. A
assinatura de Jesus: o chamado a uma vida marcada por paixão santa e fé
inabalável. Traduzido por Maria Emília de Oliveira. 1 ed. São Paulo: Editora
Vida, 2014.
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