Robinson Luis de Araujo[1]
INTRODUÇÃO
Vive-se tempos difíceis, onde o
egocentrismo tem tomando conta de pensamentos e atitudes, não sendo diferente
em nossas igrejas. O amor a base de trocas por interesses pessoais, influências
e materiais têm levado a uma banalização do Evangelho de Jesus Cristo.
Não podemos viver preso a
aquilo que o mundo nos oferece. A Igreja na atualidade, deve contrariar todas
as facilidades oferecidas pelo sistema mundano se quiser fazer a diferença em
tempos atuais.
Deixar a busca do bem próprio
tendo como desafio o bem comum, nos levam a reflexão do que Jesus quer, quando
somos levados a vivermos a VERDADE e convocados a nos esvaziarmos de nossos
interesses, sendo a essência do Evangelho.
1. UMA ATITUDE CONTRA OS
INTERESSES PESSOAIS
Quando Jesus chega ao templo, é
decepcionado pela ambição do homem, em levar proveito até nas coisas de DEUS,
Seu Pai, sendo levado a reprimi-los. Vejamos o que João 2:13-18 nos fala:
A
festa da Páscoa, celebrada pelos judeus na primavera, estava para acontecer, e
Jesus viajou para Jerusalém. Ele encontrou o templo infestado de vendedores de
gado, ovelhas e pombas. Os agiotas também estavam ali, trabalhando a todo
vapor. Jesus fez um chicote com tiras de couro e os expulsou do templo. O gado
e as ovelhas fugiram. Ele virou a mesa dos agiotas, e as moedas rolaram para
todo o lado. Aos vendedores de pombas, Ele ordenou: "Peguem suas coisas e
caiam fora daqui! Não transformem a casa de meu Pai em!". Foi nessa hora
que os discípulos se lembraram de um texto das Escrituras: "O zelo
pela Tua casa me consome".
Neste texto, temos o Cordeiro
submisso de DEUS, opostamente ao descrito em Mateus 11:29, que diz: "Tomai sobre vós o Meu jugo, e
aprendei de Mim, porque Sou manso e humilde de coração; e achareis descanso
para vossas almas". Ele acaba expressando de forma ríspida
que: "vocês não vão transformar um espaço sagrado num passeio de consumo!
Deixem de ser mentirosos! Visitar o templo deve ser um sinal de respeito ao Meu
Pai e não uma forma de comercializar ou passear na busca do prazer que gera
sacrifícios".
Quanto a atitude que Jesus
tomou nessa hora, Manning (2007, p.15) esclarece:
O
mais desconcertante é o amor intenso de Jesus pela verdade. Onde o dinheiro, o
poder e o prazer mandam, o corpo da verdade sangra de mil feridas. Muitos de
nós temos mantidos a nós mesmos por tanto tempo que nossas confortantes ilusões
e justificativas assumiram uma aura de verdade; nós as apertamos em nosso peito
como uma criança aperta um ursinho favorito.
Naquele tempo, existia a
necessidade de sacrifícios pelos pecados. Isso era normal! Porém, quando Cristo
chega ao Templo e visualiza, dentro de uma regra sacrificial, as pessoas se
aproveitando para conseguirem proveitos próprios. Tanto os mercadores, quanto
aqueles que deveriam trazer a oferta que deixavam de lado a oportunidade de se
esforçarem para levar a oferta pelo pecado e aproveitavam a facilidade dos
mercadores. Outro fato é que, caso não tivessem o dinheiro, poderiam se
utilizar dos agiotas no empréstimo de dinheiro para a compra do animal ou pelo
meio do "escambo" - a troca de outras mercadorias pelo animal. Fato
esse que não gerava compromisso em trazer a oferta, banalizando o mandamento de
DEUS.
Hoje em dia, as coisas não
estão muito diferentes daquela época não. Manning (2007, p. 16), ainda
nos afirma:
A
questão dolorosa que enfrentamos hoje em nossas igrejas é se o amor de DEUS
pode ser comprado de forma tão barata. O primeiro passo na busca da verdade não
é a resolução moral de evitar o hábito da mentirinha - por mais desagradável
que uma deformação de caráter possa ser. Não se trata de uma decisão sobre
deixar de enganar os outros, e sim da decisão de parar de nos enganar.
A quem achamos que enganamos
com nossas "mentiras cristãs?" A DEUS? A nós mesmos? As pessoas que
estão a nossa volta? A resposta é: NÃO. Não temos como enganar a DEUS e nem a
nós, talvez a pessoa que esteja a nossa volta e não possui uma comunhão íntima
conosco. Nossas palavras devem estar acompanhadas de nossas atitudes.
Manning (2007) ainda nos afirma
que a menos que tenhamos a mesma paixão inexorável pela verdade que Jesus
demonstrou no templo, estamos destruindo nossa fé, traindo o Senhor e nos
enganando. O autoengano é inimigo da integridade, pois ficamos impedidos de nos
ver como realmente somos. Ele encobre nossa falta de crescimento no Espírito da
verdade, impedindo-nos de compreender nossa real personalidade.
É preciso que reconheçamos a
necessidade de mudanças e que também cometemos nossos erros, caso contrário,
não poderemos encontrar a verdade do DEUS vivo até enfrentarmos a realidade de
nosso erro. Quando entendemos a estreita relação entre a busca da verdade e a
conversão do coração, descobrimos uma das maiores realidades da essência da
Bíblia de que, o contrário de termos uma vida em verdade, é termos uma vida de
mentiras.
No evangelhos de João, o
mentiroso obstinadamente recusa-se a ver a luz e a verdade e mergulha nas
trevas. Lembre-se sempre: "o
Diabo é o pai da mentira, Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou a
verdade. Quando mente, fala da sua própria linguagem, pois é mentiroso e pai da
mentira". (João 8:44).
O diabo é um grande
ilusionista, incitando as pessoas a dar mais importância ao que não têm
importância, desviando a nossa atenção do que é insuperavelmente verdadeiro. I
João 1:8, nos afirma: "Se
afirmarmos que estamos livres do pecado, estaremos apenas enganando a nós
mesmos. Uma declaração dessas é um erro absurdo".
Vejamos o que Manning (2007, p.
24), nos afirma com veemência:
O
conflito entre o pai das mentiras e a verdade, que é Jesus Cristo, permeia todo
o evangelho de João. O Senhor não somente derrotou o mentiroso, mas nos deu
parte de Sua vitória através do Espírito Santo: a exaltação de Jesus Cristo na cruz
liberta o Espírito. O Espírito nos capacita a derrotarmos a mentira, o
autoengano e a desonestidade; nos torna agradáveis para a verdade de DEUS e nos
leva a experimentar as realidades eternas.
Romanos 5:5 ainda nos
complementa: "Ora,
a esperança não confunde, porque o amor de DEUS é derramado em nossos corações
pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado".
2. O QUE DEVE SER REAL EM NOSSA
VIDA CRISTÃ
O que deve ser verdadeiramente
real para o cristão é a importância de DEUS para sua vida, dando a sua mente a
exuberância da verdade, dando às coisas a devida importância que elas têm na
realidade. Porém, nada é mais importante do que a salvação de uma vida para o
Senhor.
Fica claro para nós o exemplo
que Paulo nos dá sobre Jesus Cristo, descrito em Filipenses 2:5-8, que nos diz:
Tentem
pensar como Cristo Jesus pensava. Mesmo em condição de igualdade com DEUS,
Jesus nunca pensou em tirar proveito dessa condição, de modo algum. Quando Sua
hora chegou, Ele deixou de lado os privilégios da divindade e assumiu a
condição de escravo, tornando-se humano!
E, depois disso, permaneceu humano. Foi Sua hora de humilhação. Ele não exigiu
privilégios especiais, mas viveu uma vida abnegada e obediente, tendo também
uma morte abnegada e obediente - e da pior forma: a crucificação.
Percebe-se em nossos dias que
para uma maioria das pessoas, o mais real é o mundo da existência material,
sendo o mundo de DEUS o mais irreal. O que mais importa são as pessoas
influentes que nos cercam; as pessoas que se aproveitam das coisas e meios para
a busca de seus interesses próprios; pessoas que dirigem o próprio destino.
Dá-se a entender que o poderoso é o que faz coisas, não os que estão
aquebrantados e carentes.
Não cabe mais para nós cristãos
nadarmos a favor da correnteza, mantendo uma boa dianteira. O custo de sermos
discípulos de Jesus Cristo é alto. Não existe um Pentecostes barato, as pessoas
devem confiar que em nós, o único interesse que temos para com elas é que se
arrependam de seus pecados e sejam salvas, passando a viver uma vida em
comunidade e cuidado de uns para com os outros.
Não podemos deixar de mencionar
o que Atos 2: 42-47 que nos afirma:
Elas passaram a seguir o ensino dos apóstolos,
a vida em comunidade, a refeição comunitária, e a prática da oração. Todos
ficaram perplexos com os sinais e maravilhas realizados por meio dos apóstolos!
Os crentes viviam numa harmonia maravilhosa e tinham tudo em comum. Vendiam o
que possuíam e deixavam os recursos à disposição para atender às necessidades
de quem precisasse. Eles seguiam uma disciplina diária de cultos no templo,
seguidos de refeições nas casas. Cada refeição era uma celebração vibrante e
alegre, com muito louvor a DEUS. O povo da cidade apreciava o que via. Todos os dias, o número deles
aumentava, e DEUS acrescentava os que iam sendo salvos. (grifo
do autor).
Nossa insípida reação à
realidade é ainda menos entusiasmada quando nos deparamos com Jesus Cristo e
analisamos o modelo de vida cristã. Embora sejamos confrontados com uma moral
tão sublime e exigente que parece totalmente impossível, não ficamos
impressionados pelo estilo de vida que Cristo nos apresentou. Ele nos orienta
que o padrão de estilo de vida do cristão deve ser o Ágape. João 15:13 nos
deixa claro: "Deem
a vida pelos amigos". Quando nos doamos as pessoas,
verdadeiramente demonstramos que amamos a Ele, conforme o v. 14: 'Vocês mostram que são meus amigos
quando fazem o que mando".
3. VIVENDO O KENOSIS
Jesus
nos dá a referência desse amor Ágape.
Podemos afirmar que é um amor incondicional, um amor que não exige trocas, um
amor de total auto esvaziamento para com o próximo.
Jesus
nos adverte severamente: "Deixem-me
dar a vocês um novo mandamento: amem uns aos outros, assim como amei vocês,
amem uns aos outros" (João 13:34).
Essa é a única prova que temos como mostrar que amamos ao Senhor e somos seus
discípulos, conforme o versículo subsequente que nos fala: "Dessa maneira todos vão reconhecer que vocês são Meus discípulos,
quando virem em vocês o amor que vocês têm uns pelos outros".
Ainda
podemos citar alguns textos bíblicos que demonstram a diferença em pertencer ao
Senhorio de Jesus Cristo e as minhas vontades. Mateus 5:39-42, nos fala:
Aqui
esta o que proponho: Não revide, de jeito nenhum. Se alguém bater no seu rosto,
ofereça-lhe o outro lado. Se alguém o levar ao tribunal e exigir sua camisa,
embrulhe para presente o seu melhor casaco e entregue-o a ele. Se alguém se
aproveitar de você para levar vantagens injustamente, aproveite a ocasião para
praticar a vida de servo. Nada de pagar na mesma moeda. Viva generosamente.
Como
cristãos, não podemos por em prática o código de Hamurabi[2].
A vida cristã é uma vida de recusa a nossos interesses particulares e os
interesses de vingança. A verdade do autoesvaziar esta intrinsecamente
relacionada ao amor que DEUS nos propiciou, pois sem merecimento, em virtude de
nossos pecados, Ele se entregou sem olhar para nossos pecados, caso contrário,
não teríamos como herdar a salvação. Mateus 5:29-30, nos afirma:
Não
finjam que isso é fácil. Se querem viver uma vida moralmente pura, façam o
seguinte: ceguem o olho direito assim que o apanhar em um olhar malicioso. É
preciso escolher entre viver com um olho só ou sofrer o juízo de ser lançado
num depósito de lixo moral. Se for preciso, ampute a mão direita para que ela
não se erga contra ninguém. É melhor ter um membro amputado que sofrer o juízo
de ter o corpo inteiro jogado no lixo.
Como
a própria Palavra nos afirma, não é fácil levarmos uma vida de auto esvaziamento
de nosso "eu" em detrimento de nosso próximo, ao ponto de até mesmo
nos lesarmos para deixarmos nossas paixões e desejos de lado. Mateus 5:11-12,
ainda nos adverte:
E
isso não é tudo. Considerem-se abençoados sempre que forem agredidos, expulsos
ou caluniados para me desacreditar. Isso significa que a verdade está perto de
vocês o suficiente para os consolar - consolo que os outros não têm. Alegrem-se
quando isso acontecer. Comemorem, porque, ainda que eles não gostem disso, Eu
gosto! E os céus aplaudem, pois sabem que vocês estão em boa companhia. Meus
profetas e minhas testemunhas sempre enfrentaram essa mesma dificuldade.
Acredito
que esta palavra contrapõe o Evangelho anunciado em nossos dias atuais, onde as
pessoas oferecem as bênçãos prometidas e de facilidades, deixando de falar que
a vida cristã é uma vida de dedicação e cruz, representada pela morte de nosso
eu.
Ainda
em Mateus 10:34 nos adverte: "Não
penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas sim a espada".
Engano nosso em acharmos que a vida cristã é um mar de rosas, onde o Senhor
está de ouvidos atentos para receber todos os nossos pedidos e como um
"servo", fazer todas as nossas vontades carnais. Michel Quoist[3]
afirma:
Estamos
satisfeitos com nossa vidinha decente. Estamos contentes com nossos bons
hábitos: nós os tomamos por virtudes. Estamos contentes com nossos pequenos
esforços: nós os tomamos por progresso. Estamos orgulhosos de nossas
atividades: elas nos fazem pensar que estamos nos doando. Estamos
impressionados com nossa influência: imaginamos que ela transformará vidas.
Estamos orgulhosos do que damos, entretanto ocultamos o que retemos. Podemos
até mesmo estar confundindo um conjunto de egoísmos coincidentes com verdadeira
amizade.
É
preciso que tenhamos convicção de que:
Quando,
como cristãos sinceros, abrimos e começamos a participar da vida proposta por
Jesus - uma vida de constante oração e total desinteresse, uma vida de bondade
alegre e produtiva e de uma pureza de coração que vai além da castidade para
efetuar cada faceta da nossa personalidade - nosso sentimento de temor e
perplexidade pode rapidamente azedar em ceticismo e pessimismo. (MANNING, 2007,
p. 30).
Verdade
que a ética cristã em nossos dias tornou-se impraticável, principalmente em
tempos onde a corrupção tem nos assolados de passos largos. Parece que as
pessoas não se interessam mais por elas, sendo assim impossível de se praticar
e irrelevante. Parece que o que Jesus Cristo falou e demonstrou está associado
somente aquela época e tentamos adequar a Sua palavra para nossos interesses do
mundo moderno, a um mundo capitalista que pensa somente em seus interesses. O
que mais preocupa é que a igreja tem se conformado com essas situações.
Devemos
entender que nós recebemos a determinação do próprio DEUS em representarmos e
anunciarmos a era Messiânica em que vivemos, conforme Lucas 3:15 fala: "O povo, então, começou prestar mais atenção
ao pregador. Eles se perguntavam: 'Será que João é o Messias?'". Em
Lucas 7:22, Jesus fala aos discípulos enviados por João: "Voltem e digam a João o que vocês acabaram de ver e ouvir: Os
cegos veem, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem,
os mortos ressuscitam, os marginalizados da terra ficam sabendo que DEUS está
do lado deles".
Categórica
é a afirmação de (Manning, 2007, p. 32) que nos assevera:
Todas
as estruturas da igreja devem revelar a marca do amor de Cristo dedicado aos
pobres. Ao ignorar essa árdua sentença, a própria igreja se torna empobrecida,
assim como bem pouco confiável e bem pouco convincente para pregar o evangelho
com clareza e visão, e também infantilmente presa às quinquilharias da
reputação, às conversas vazias da diplomacia, aos favores degradantes dos
ricos, à idolatria das estruturas e à posição de proeminência.
Leva-nos
a pensar o que temos feito em nossas estruturas intituladas de "igrejas"
ou melhor, nossos "templos". O nosso discurso não tem agradado mais
as pessoas, pois eles não estão sendo acompanhados pelas práticas. A palavra de
DEUS nos afirma que: "Quando o corpo
é separado do espírito, temos um cadáver. Tentem separar a fé das obras. O
resultado será o mesmo: apenas um cadáver!" (Tiago 2:26).
Porém,
cabe ressaltarmos que jamais seremos pessoas perfeitas, que conseguiremos por
em prática todas as ordenanças que Jesus nos deixou, seria uma utopia acharmos
que nunca erraremos. Sim, nós falharemos no processo. O que é importante é que
reconheçamos a nossa falha.
4. RECONHECER NOSSAS IMPERFEIÇÕES
Não se pode deixar
para trás que as demandas do evangelho nos levam a uma real consciência de que
somos fracos e imperfeitos. Somos levados a deixarmos nossa autovalorização e
nos fazem perceber o quanto limitado somos. Quando permitimos que essa
percepção se infiltre em nosso coração, somos levados a nos afastarmos de
nossas presunções, complacências e de uma auto suficiência que nos envenenam
espiritualmente.
A palavra de DEUS nos desperta para nossas carências. Enquanto
não submetermos a nossa vida ao julgamento do evangelho e aos padrões da
bondade e virtude estabelecida por Jesus, não haverá uma consciência profunda
de que somos pecadores e carecemos das misericórdias do Senhor.
Lembre-se: Não somos filhos de DEUS por nossos
méritos, mas sim pelas misericórdias em nos aceitar como filhos pelo sangue de
Seu Filho Jesus Cristo. A nossa salvação não vem por meio das obras que
realizamos e sim pelo dom gratuito de DEUS. Efésios 2:8-10 nos afirma:
A
salvação foi ideia e obra dEle. Nossa parte em tudo isso é apenas confiar nEle
o bastante para permitir que Ele aja em nossa vida. É um imenso presente de
DEUS! Não somos protagonistas nessa história. Se fosse o caso, andaríamos por
aí nos vangloriando do que fizemos. Não! Nada fizemos nem nos salvamos. DEUS
faz tudo e nos salva! Ele criou cada um de nós por meio de Cristo Jesus, e a
Ele nos unimos nessa obra grandiosa, a boa obra que Ele deseja que executemos e
que faremos bem em realizar.
Caso
não compreendamos essa verdade, que a salvação é pela graça e independe de
nossas boas obras, corremos o risco de tornar o cristianismo muito fácil e
retiramos o seu significado, o de negar-se a si mesmo. Marcos 8:34 nos deixa
claro. Vejamos: "Depois Ele chamou
seus discípulos e o povo e disse: Se qualquer um de vocês quiser ser meu
seguidor, deve pôr de lado os seus próprios interesses, tomar sobre os ombros a
sua cruz, e seguir-me".
Sendo
assim, precisamos voltar às origens do Evangelho e dizer abertamente e em bom
som: JESUS SALVA, estando esta verdade muito mais próxima da mente e do coração
de Cristo do que da legalidade e da moralidade imposta por nossas opiniões.
5. É PRECISO SER COMO CRIANÇAS
Para
que possamos adentrar ao Reino dos céus, se faz necessário sermos como
crianças. Mateus 18:1-4 nos fala:
Naquele
momento, os outros discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram: "Quem
é o maior no reino de DEUS?”. Como resposta, Jesus chamou uma criança para o
meio da sala e disse: "Digo a vocês de uma vez por todas que, se não
começarem do princípio, como crianças, não terão a chance nem de ver o Reino,
muito menos de entrar nele. Quem se tornar simples de novo, como esta criança,
será o maior no Reino de DEUS".
Além
do mais, no sermão do Monte, Jesus começa assim: "Abençoados são vocês, que nada têm a mais para oferecer. Quando
vocês saem de cena, há mais de DEUS e do Seu governo".
Importante
sabermos que no tempo do Novo Testamento, na comunidade judaica, a criança era
considerada sem nenhuma importância, não recebendo nenhuma atenção ou favor.
Ela era considerada um desprezo. Para sermos verdadeiros discípulos de Jesus,
precisamos ser como crianças, aceitando a si mesmo como pouco apreciado, sem
nenhuma importância.
Jesus
mais uma vez, mexe na ferida dos fariseus quando, pegando uma criança, diz que
o modelo para adentrar no Reino dos céus, é ser o modelo de uma criança,
desprezado, sem nenhuma importância e não chamando a atenção para si mesmo.
Agindo assim, passamos a entender que os dons não são nos dado pela mais leve
qualidade ou virtude pessoal. São pura generosidade de DEUS para nós.
As
pessoas a quem Jesus dirigia Sua missão Messiânica eram verdadeiros pecadores.
Não tinham feito coisa alguma de boa para receberem a salvação, como exemplo, o
ladrão da cruz; Zaquel, dentre outros. Reconhecendo que não eram merecedores,
reconhecendo que não era por suas obras; se abriram para receber o dom que lhes
foi oferecido. Os presunçosos, em contrapartida, depositam sua confiança
naquilo que fazem por merecer a partir dos próprios esforços, fechando seu
coração para a mensagem da cruz.
A
salvação que Jesus prometeu não pode ser conquistada por meio de barganha para
com DEUS. Existe somente um meio para tal: é por meio de Seu sofrimento na
cruz, Jesus destruiu totalmente a noção jurídica de que nossas obras exigem um
pagamento em troca.
É
fácil percebermos isso, quando lemos Mateus 20:12-15 que nos diz:
Revoltados,
reclamaram com o administrador: "O último grupo trabalhou apenas uma hora,
e você pagou a eles o mesmo que nós, que trabalhamos como escravos o dia
inteiro debaixo de um sol escaldante". Ele respondeu ao que falava em nome
de todos: "Amigo, não fui injusto. Nós concordamos com esse valor, não
concordamos? Então, pegue seu dinheiro e vá embora. Decidi dar ao ultimo grupo
o mesmo que daria a você. Será que não posso fazer o que quero com meu
dinheiro? Você vai se tronar mesquinho por eu ser generoso?"
Nossas
obras insignificantes não nos dão o direito de negociar com DEUS. Tudo depende
da boa vontade do Senhor. A salvação oferecida pelo Senhor é puramente
gratuita, dirigida especialmente para os que não têm nenhum direito a ela,
aqueles que são tão conscientes de seu demérito que devem confiar na misericórdia
de DEUS. É na miséria do pecador que Jesus vê a possibilidade de salvação, pois
dEle é o Reino de DEUS.
Vejamos
que Jesus, com a parábola dos trabalhadores na vinha, alegremente acaba por
proclamar o amanhecer de uma nova era e o porque que veio. Acredito que Ele
acabou por declarar: "Vocês pobres, nadas, de pouca importância pelos
padrões do mundo. Saibam que vocês são abençoados. É a boa vontade de Meu Pai
de conceder-lhes um lugar privilegiado no Reino, não porque trabalharam tão
arduamente, ou porque dizem, fazem ou tornam todas as coisas certas, mas porque
Meu Pai quer vocês".
É
preciso que tenhamos a simplicidade de entendermos que fomos transformados pelo
simples fato de sermos aceitos por DEUS. A isso, podemos chamar de graça.
Essa compreensão nos traz uma diferença significativa na compreensão de adoração. Somos os
adoradores do amor redentor e da misericórdia de DEUS que nos aceita. Somos
imersos em gratidão e dependência. Nosso próprio ser é uma celebração, uma ação
de graças permanente e perpétua a DEUS. (MANNING, 2007, p. 41).
Quando
entendemos que comunhão significa ação de graças, passamos a entender que o
cristianismo significa um reduto de pessoas alegremente agradecidas. O Salmista
nos mostra claramente essa alegria, como por exemplo: "Vamos à Sua presença, cantemos louvores de abalar as
estruturas". (Salmos 95:2). Ainda Salmos 100:4, nos fala: "Entrem na fila e digam de coração:
"Obrigado!". Vão à presença dEle e cantem louvores. Agradeçam-no por
tudo! Adorem-no!". Salmos 147:7, nos afirma: "Cantem ao Eterno um hino de ações de graças. Toquem seus
instrumentos diante do DEUS".
Sendo
assim, o cristão jubiloso, mantém um sentimento de temor e deslumbramento
diante de DEUS, por experimentar o sentimento de pertencer a uma comunidade
redimida. Sua vida passa a ser de gratidão, conseguindo compartilhar com as
pessoas a sua volta, entendendo que ela não é merecedora sozinha das bênçãos
que DEUS tem concedido. Esse cristão se abre para a verdade de que tudo o que
possui vem de DEUS e de que é totalmente dependente de Jesus Cristo, quando
assume que Jesus Cristo o salvou não por seu merecimento.
6. FINALIZANDO
Isso
não quer dizer que minha vida será sempre um mar de rosas, que deixo de passar
pelas agruras da vida, que até mesmo poderei adorar com certo desânimo. Mesmo
assim, eu entenderei que a base do cristianismo é uma vida em constante alegria
e gratidão, sendo esse o legado do ministério Pascal deixado pela morte e
ressurreição de Jesus Cristo. Não assumimos a filiação para com DEUS por nossos
méritos e sim pela Sua misericórdia.
A
nossa vocação religiosa deverá ser datada do mesmo momento da minha fé.
7. BIBLIOGRAFIA
MANNING, Brennan. Convite à Loucura. Tradução de Sueli
Saraiva. São Paulo: Mundo Cristão, 2017.
PETERSON, Eugene H. A Mensagem: Bíblia em linguagem
contemporânea, supervisão exegética e teológica Luiz Sayão. São Paulo: Editora
Vida, 2011.
[1] E-mail: robinson.luis@bol.com.br
[2] É um conjunto de leis
criadas na Mesopotâmia,
por volta do século XVIII a.C, pelo rei Hamurabi da primeira dinastia
babilônica. O código é baseado na lei de talião, “olho por olho, dente por
dente”.
[3] Michel Quoist foi um
presbítero e escritor francês. Como missionário no exterior, fez parte do
comitê episcopal da Igreja Católica, na América Latina.
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